segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sobre a duração do trabalho de parto e a desculpinha da parada de progressão!!


O ACOG (American College of Obstetricians and Gynecologysts), equivalente à nossa FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), aderiu à curva de evolução de trabalho de parto proposta por Zhang e colaboradores desde 2002.



Antes  dessa recomendação, o consenso internacional era seguir a curva de evolução do trabalho de parto proposta por Emmanuel Friedman, em 1952. Nada contra Friedman, que na verdade fez o que pode em sua época, mas baseou todo seu trabalho em um número pequeno de mulheres americanas da época, e seria ilógico pensar que essa verdade científica fosse real até os dias de hoje. 

Sabemos que medicina não é uma ciência exata, e que na prática acaba sendo a ciência das verdades temporárias, uma vez que praticamente todo conhecimento se renova em 5 anos.
Mas enfim, o ACOG lançou seu consenso agora, publicado como o primeiro de uma provável série baseada na “força tarefa” chamada de “preventiva da primeira cesariana” (Safe prevention of the primary cesarean delivery. Obstetric Care Consensus No. 1. American College of Obstetricians and Gynecologists. Obstet Gynecol 2014;123:693–711). Entendam, brasileiros: em países sérios, há inúmeras iniciativas para redução da taxa de cesariana!!

As tabelas do artigo mostram que a morte materna foi 4,3 vezes superior em cesarianas, e a morbidade respiratória neonatal  chegou até 4 vezes, comparadas com nascimentos por via vaginal. Ou seja, o ACOG entende que cesariana é cirurgia de emergência, que deve ter uma clara justificativa, porque aumenta morbidade tanto para mães como para seus bebês.

A famosa “distócia de progressão” ou “trabalho de parto protraído” ou "parada de progressão" é uma das maiores justificativas utilizadas para indicação da primeira cesariana nos EUA. Daí a necessidade de redefinição dos períodos do trabalho de parto quanto a sua duração.

Baseado na curva de Zhang, o ACOG define que, na fase ativa do TP, se houver mais de 6 cm de dilatação com membranas rotas, só devemos diagnosticar trabalho de parto protraído (que não evolui, a famosa “distócia de progressão”) se não houver mudança cervical após 4 horas de contrações efetivas, ou 6 horas de contrações ineficazes. 
Detalhe: a observação de 6 horas de contrações irregulares SEM USO DE OCITOCINA, QUE NÃO ESTARIA INDICADA ANTES DISSO!!!!!

Além disso, a tabela 3 do artigo salienta:
  1. A fase latente prolongada (mais de 20 horas em nulíparas e mais que 14 horas em multíparas) não deve ser uma indicação para cesariana.
  2. Trabalho de parto lento, porém  progressivo, na primeira fase não deve ser uma indicação para cesariana.
  3. Dilatação cervical de 6 cm deve ser considerada a dilatação inicial na fase ativa da maioria das mulheres em trabalho de parto. Assim, antes de 6 cm de dilatação, os padrões de progresso de fase ativa não devem ser aplicados. 
  4. Cesariana por protração da fase ativa deve ser reservada para as mulheres com dilatação superior a 6 cm, com ruptura de membranas, que não conseguem progredir  após 4 horas de atividade uterina adequada, ou pelo menos 6 horas após a administração de ocitocina com atividade uterina inadequada e nenhuma mudança cervical.
  5. A duração do período expulsivo (2ª fase) é baseada em avaliações de baixo grau de evidência, portanto é sujeito a avaliações individuais, desde que não haja exaustão materna nem alteração da vitalidade fetal.
  6. Não se considera expulsivo prolongado antes de 3 horas para primíparas, e 2 horas para multíparas, considerando PUXOS ESPONTÂNEOS.
  7. O parto vaginal é recomendável para gestações gemelares com o primeiro feto em apresentação cefálica, mesmo que o segundo esteja pélvico ou transverso.
Cada vez mais surgem evidências que, na assistência ao parto, a MENOR intervenção é sempre a MELHOR conduta.
Então você, que é cuidador de parto: vamos estudar???
Um trabalho de parto fisiológico não necessita de internação antes de 6 cm de dilatação. Você deve esperar a dilatação acontecer, mesmo que ela esteja ocorrendo lentamente. Não tenha pressa em mandar a mulher fazer força antes que ela mesma manifeste esse desejo. Comece a contar o tempo de expulsivo somente após o início dos puxos espontâneos, mesmo que a dilatação do colo já seja total antes disso (aliás, você fez toque vaginal para quê, mesmo??). Monitore a ausculta cardíaca fetal a cada 15 minutos no expulsivo em mulheres de risco habitual, observando variabilidade.
Tenha tranquilidade.
NUNCA, em hipótese alguma, faça pressão fúndica uterina para o nascimento da criança (manobra de Kristeller). Isso é desnecessário e prejudicial. Se você tem pressa, vá dar uma volta, abra o notebook e leia esse consenso.
Seja um assistente de parto, e não um realizador do processo! Mulheres agradecem, e a boa ciência também.


Essa nota foi escrita por Carla Andreucci Polido

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pródromos - Como lidar ?

Quando chegamos às 38 semanas de gestação, consideramos que o bebê está a termo, a data provável do parto logo vai se aproximando e junto com isso a ansiedade pode ir aumentando. Em um país de cultura cesarista como o nosso, chegar as 40 semanas, é como passar do prazo de validade! Mas não podemos deixar de lembrar, que uma gestação pode durar em torno de 42 semanas, por isso, se preparar para essa reta final da melhor forma possível torna as coisas mais leves e pode também ser bastante prazeroso!

Eis que um dia, o corpo começa a demonstrar sensações diferentes...as contrações ficam mais perceptíveis, parece até que junto delas vem uma cólica na lombar ou bem no "pézinho" da barriga! E então, você pega sua mala, avisa seu médico, liga para sua Doula!! Seu coração dispara, você pensa que finalmente o dia tão esperado chegou...e de repente...as contrações passam! Sim!! Alarme falso!

Mas no dia seguinte, lá estão elas novamente...mais fortes, mas ainda sem ritmo! E novamente vem aquele misto de emoção e ansiedade...e então você pensa: Agora vai!!! E em seguida, elas se vão novamente...



Na maioria das vezes não e fácil lidar com essa inconstância...com esse vai não vai...mas na verdade esses momentos são bastante importantes. São os pródromos!

É chamada de pródromos essa etapa que algumas vezes acontece antes de se iniciar o trabalho de parto latente. Podem durar dias ou até mesmo semanas, e é assim...os sinais aparecem e logo desaparecem...Começam, mas não engrenam. A mulher sente como se estivesse entrando em trabalho de parto, mas nos pródromos pode não haver nenhuma dilatação do colo.

Para algumas mulheres pode não ser muito fácil de lidar com esse processo, mas se você entender que cada coisa tem seu tempo,que a natureza sabe como agir, e que quando seu bebê estiver pronto pra nascer as coisas realmente irão acontecer, você pode fazer desse momento uma possibilidade de viver uma bela preparação física e principalmente emocional para o momento do parto. Sinta seus medos, aproveite os pródromos para conhecer as sensações e observar a sua forma de lidar com elas.

O corpo da mãe e do bebê estão se preparando para o nascimento, e esse momento está próximo de chegar...então aproveite! Tomes banhos demorados...tome um chá bem acompanhada.. namore...peça para seu companheiro(a) uma boa massagem nos pés...procure descansar.

Enfim, saiba que sua hora vai chegar...entregue-se ao processo do nascimento, e permita-se renascer!


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sobre a Lei da Doula



Parece que foi ontem que comecei a atuar como Doula...lembro de pessoas e situações que aconteceram ainda beeem no comecinho deste aprendizado! Quando eu ainda nem sabia direito o que fazer pra ajudar aquelas mulheres todas!

Mas o tempo passou...pessoas chegaram, outras partiram...mas eu ainda estou aqui, e a batalha continua.

Trabalhar exclusivamente como Doula nem sempre é fácil! As pessoas costumam ver superficialmente esse oficio...como um passatempo, ou como uma coisa linda e romântica...Mas a realidade não é bem essa.

Ser doula pra mim, é um pouco como parir (apesar de nunca ter parido, eu pude presenciar e sentir isso com tanta intensidade e tantas vezes, que quase acreditei em algumas delas que já tivesse vivido aquilo!) Mas recapitulando... ser doula é um pouco como parir, precisa de entrega, de informação, de insistência, suor, sangue, lágrimas e até mesmo gritos algumas vezes. Porque doula também é humana, também é mulher, também é mãe...e também tem medos, fraquezas e inseguranças.

Enfim...quando a coisa é vital, ela acontece! E então se passaram quatro anos! E eu continuo amando fazer isso, e continuo tendo que enfrentar algumas barreiras, dentre elas a maior de todas...EU mesma!

Essa semana aconteceu uma das maiores conquistas e provações que sinceramente durante muito tempo duvidei ter forcas para fazer e acontecer... Mas com MUITO, muito, muito apoio, sim, ela aconteceu!!

Foram três meses para que as coisas se desenrolassem e finalmente o dia chegou!!! 15 de fevereiro de 2016!! O dia da votação do projeto de lei N° 92/2015, ansiedade a mil, apenas três dias para divulgar isso e tentar encher a câmara municipal de pessoas unidas pelo mesmo ideal, mas deu tudo certo! Conseguimos!

Botucatu agora aprova a presença das doulas em todas as instituições hospitalares que prestam assistência ao parto! E com certeza isso é um ganho das mulheres!

E quem mais ganhou fui eu! Ganhei força, confiança no meu trabalho, e a certeza de que tenho comigo gente que torce por mim...pelas minhas conquistas!

Quero agradecer a todos que de alguma forma ajudaram...cada um de vocês sabem exatamente quem são! <3













Relato de Parto da Ana Carolina - Nascimento do Davi

Davi: desejado, planejado e intenso!

Finalmente arrisco a fazer meu relato de parto...
Confesso que já ensaiei algumas vezes... desisti, achei que estivesse “enferrujada” na arte de escrever, mas não... estava, apenas, vivendo, sentindo e respirando meu puerpério.

Pois bem.
Davi, esse era o nome escolhido muito antes de nos descobrimos “grávidos”.
E, por razões que não sei explicar, eu tinha certeza que seria mãe de um menino.
Eu sempre quis ter um parto normal e, sabendo que teria que ir contra o sistema, comecei procurando uma Doula e encontrei minha querida Mariana Castelo Branco.
Através dela e de seu grupo de apoio (Do Fundo do Ventre), conheci a Dra. Claudinha (Claudia Garcia Magalhães), a médica mais humana, gentil, carinhosa, alto astral, atenciosa e fofa do universo! Neste dia, eu disse a ela que ainda não estava grávida, mas que não abria mão de tê-la como médica, especialmente depois que vim a saber que ela não só torcia para o nosso Corinthians, como também fazia o famoso “batismo corinthiano” na hora do nascimento! rsrsrsrsrsrs

Então, no dia 07 de janeiro de 2015, com 13 dias de atraso, sem muitas expectativas, fiz exame de sangue e, BINGO, estava grávida!
E agora? Queria contar de um jeito especial para o Thiago, então peguei uma roupinha fofa de bebê que tinha comprado para dar de presente e na caixa colei o resultado do exame e entreguei para o “papai”, que jogou a caixa longe e nem viu o exame... mas, ao pegar aquele body minúsculo, incrédulo, olhou pra mim, perguntou se era verdade e me abraçou longamente!

Fiz o exame de sexagem fetal, pois estava saindo de viagem e queria aproveitar para fazer o enxoval lá fora. E lá mesmo recebi a confirmação de que esperava o Davi!!!

De volta ao Brasil, com 14 semanas, a primeira bomba: meu pai, uma pessoa de hábitos super saudáveis, teria que se submeter a uma cirurgia cardíaca de grande porte.Vencemos, como eu tinha certeza que venceríamos, afinal meu filho não podia nascer sem conviver com o melhor vovô do mundo!!!

Alguns meses mais tarde, já de 28 semanas, a segunda bomba: o atropelamento de uma pedestre na rodovia, sem consequências físicas, mas um susto sem tamanho.

E, por fim, na reta final, já com 38 semanas, uma cólica renal insuportavelmente dolorida, que me fez confundir com os pródromos.

Ah, não posso esquecer de contar que a Claudinha estava indo para congressos/simpósios nessas últimas semanas e que eu sempre conversava com o Davi, pedindo pra ele esperar a “tia Claudinha” voltar! E ele, de fato, obedeceu a mamãe e esperou!!! kkkkkkkkkk

E de fato ele esperou! Com 39 semanas e 5 dias, as contrações vieram pra valer. Por volta das 22h00 do dia 1º de setembro de 2015, comecei a ficar sem posição, sentia um forte incômodo na pelve, irradiando para a lombar.
Decidi ir deitar e, então, as contrações foram ritmando. Pedi para o Thiago ligar pra Mari e pra Claudinha... não sabia o que fazer/esperar. Fomos para o Hospital por volta das 0h30 e a Mari nos encontrou lá. Após ser examinada, com 4 cm de dilatação, decidimos voltar pra casa e esperar lá o TP ativo, onde alternei entre a cama e o chuveiro, devido ao pouco espaço no apto, vocalizando muito, pois isso me ajudava a aliviar a tensão, além de ter a Mari e o Thiago me amparando, massageando, encorajando, apoiando, cuidando e incentivando.




Nessa hora, tenho que dizer, bate uma tremenda insegurança, parece que perdemos a “coragem”, sei lá... perguntei pra Mari se a Claudinha me daria anestesia, caso eu pedisse... hahahaha

Até que, às 7h30 o Thiago disse que eu precisava levantar para irmos ao hospital e chegar junto com a Claudinha. Nesse exato momento, relaxei por completo, especialmente por ter a certeza de que tudo sairia como havíamos planejado...a bolsa rompeu! E foi um aguaceiro só! Hahahahahahahaha

Dei entrada na maternidade por volta das 8h30... a Claudinha me examinou e constatou 9 cm de dilatação (eu acho)... era chegada a hora de conhecer meu pequeno príncipe, já que ao longo de toda a gestação ele nunca quis mostrar seu rostinho no ultrassom.




Perto das 9h00 fomos para a sala de pré-parto, cuidadosamente preparada pela equipe da Claudinha. Bola, colchonete, chuveiro quentinho, banqueta, luzes apagadas, equipe reduzida, enfim... um sonho! Ali fiquei um tempo no chuveiro quentinho enquanto pude... até que pedi a banqueta, onde fiquei até o final.



Nessa hora, já entregue à partolândia, e sempre amparada pelo meu amor, pude ver a querida Alicinha Kiy(pediatra n.º 1 do Davi) e nossa amiga mais que especial, Bianca Cassettari emocionadíssima, vivendo tudo aquilo conosco e nos dando a força necessária para trazer o Davi ao mundo de um jeito todo especial.




E, em meio a tanto amor, sem comandos, apenas com a sugestão da Claudinha para que eu tentasse tocá-lo para sentir que ele estava chegando, sentindo o choro carregado de emoção de um pai espetacular, o meu mundo se tornou mais azul!

Assim, num parto natural humanizado, no dia 02 de setembro de 2015 às 10h02m, Davi chegou de mansinho, calmo, com um chorinho leve que cessou no imediato momento que veio para os meus braços entrelaçados pelos do Thiago.
Lindo, forte, saudável e com o nariz do papai (rsrsrs), com 49,5 cm e 3,280 kg, Davi foi colocado para mamar e esperamos o cordão para de pulsar para clampeá-lo.
Ficamos separados por pouquíssimos minutos, apenas para os procedimentos indispensáveis, porém não padronizados, sempre na presença do papai mais fresco do pedaço. Depois disso, ficamos nós três, inseparáveis, por todo o tempo que estivemos no hospital.
Ah, não posso esquecer de dizer que houve ainda o “nascimento” da placenta, de forma natural, sem qualquer manobra ou tracionamento. E, ao final, a melhor das notícias, períneo íntegro, sem nenhuma laceração importante, desnecessário qualquer ponto.













Quanto à dor... sim, dói, mas tenho comigo que muitas outras coisas doem infinitamente mais. Por exemplo, a cólica renal que me acometeu dias antes do nascimento... foi bem pior que a temida “dor do parto”, principalmente porque a esqueci imediatamente após ter o Davi em meus braços!!! E, sim, penso em sentir e viver essa dor mais uma vez, pelo menos!!!hahaha

Sem dúvida, posso dizer que foi a experiência mais intensa da minha vida, que me transformou e continua me transformando diariamente, há pouco mais de 5 meses.

Pra terminar, digo que todas nós, mulheres, nascemos para parir. Esta é a natureza.
Então, se este é o seu desejo, vá em frente, informe-se, contrate uma doula, corra atrás de um médico que realmente respeite a sua vontade, porque PARIR vale a pena sim.


Palavras nunca expressarão suficientemente minha gratidão, mas deixo aqui o meu “muito obrigada” a todos que participaram desse momento conosco, especialmente a Claudinha, a Mariana e a Alicinha, que nos assistiram de maneira espetacular!

Ana Carolina.