sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O risco de agendar uma cesárea sem necessidade



Novo estudo mostra que o risco de morte do bebê que nasce antes de 39 semanas é maior do que aqueles que chegam ao fim da gestação.

Cada vez mais os estudos confirmam e alertam o quanto adiantar o parto sem necessidade, mesmo que em poucas semanas, traz riscos para o bebê. Um deles, publicado este mês na revista científica Obstetrics & Gynecology, revelou que antes de 39 semanas há risco de morte para a criança.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas da March of Dimes Foundation, uma organização não governamental que encabeça campanhas nos Estados Unidos para evitar nascimentos prematuros, analisaram mais de 46 milhões de nascimentos, usando dados do National Center for Health Statistics U.S. O resultado revelou que a taxa de mortalidade infantil era de 1.9 para cada 1.000 bebês nascidos na 40a semana de gestação e subia para 3.9 para aqueles nascidos pouco antes, na 37a semana.

De acordo com Antônio Júlio de Sales Barbosa, ginecologista e obstetra do Hospital Santa Catarina (SP), a pesquisa apenas reforça o que já é sabido entre os obstetras. “São considerados prematuros bebês que nascem com menos de 37 semanas. Mas isso não quer dizer que aquele que chegou até a 37a já possa nascer. Não é bem assim. Eles ainda têm um pequeno cumprimento de maturidade pulmonar a ser vencido – o que acontece entre a 38a ou 39a semana”, diz.

E o especialista reforça, ainda, que, mesmo na 38a semana, as cesáreas eletivas (agendadas sem necessidade) podem trazer surpresas, ao acarretar em complicações para os bebês, como infecções respiratórias, febre, alteração na temperatura. “Parece que uma semana é pouco, mas para o bebê na barriga é muito”, afirma Júlio.

Sobre problemas respiratórios, aliás, cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, já haviam mostrado como o risco de complicação acaba sendo maior para quem nasceu antes da hora. Eles avaliaram mais de 230 mil partos feitos entre 2002 e 2008 em hospitais dos Estados Unidos. Cerca de 7 mil bebês tiveram de ser internados em UTIs, sendo que, destes, mais de 2 mil sofreram de problemas respiratórios. Entre os casos de pneumonia, por exemplo, o problema caiu de 1,5% entre os que nasceram de até 38 semanas para 0,1% na 39ª semana.

No Brasil, a maioria dos nascimentos na rede particular ainda é feita por cesáreas. O maior problema é o crescente número de cesáreas eletivas, ou seja, quando a cirurgia é agendada antes de a grávida entrar em trabalho de parto. Um dos riscos envolvidos é a chance de o médico errar no cálculo gestacional e o bebê nascer prematuro. Com isso, a criança deixa de ganhar peso e de amadurecer os pulmões, e ainda corre o risco de precisar ser internada em uma UTI neonatal por conta da prematuridade. “Muitas cirurgias são feitas sem necessidade, apenas por comodismo, tanto dos pais da criança, que querem se organizar melhor, quanto dos médicos, que não precisam desmarcar consultas para realizar um parto a qualquer momento”, diz Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês (SP). Nos Estados Unidos, dados do March of Dimes mostram que 543 mil bebês (1 a cada 8) nascem prematuramente.

A situação é diferente quando a mãe entra em trabalho de parto e, no meio do caminho, é preciso realizar uma cesárea. A chance de a criança ter problemas pulmonares é menor porque, durante o processo, segundo Pupo, há uma série de transformações que acontecem na criança que a deixam mais preparada para sobreviver fora do útero. “Não se deve interferir num processo natural, a não ser em casos específicos em que há risco de vida para a mãe e o bebê”. A data provável dos partos é em torno de 40 semanas de gestação. E, se mãe e filho estiverem bem, esse prazo pode se estender até 41 semanas e 6 dias.

Por que o número de cesárea só cresce?

Por falta de informação , incentivo do médico ou até mesmo por medo do parto normal, as gestantes tendem a acreditar que a cesárea é o tipo de parto mais seguro. Mas os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que é justamente o contrário. Um estudo, que avaliou mais de 100 mil nascimentos em países asiáticos, mostrou que as grávidas que passaram por uma cesárea têm mais de sofrer complicações sérias, que podem levar à morte. Caso a cesárea seja realizada antes da mulher entrar em trabalho de parto e sem indicação médica, os riscos são 2.7 vezes maiores do que no parto vaginal, segundo as estatísticas. Já no caso dos partos cirúrgicos feitos antes do trabalho de parto, mas com indicação médica, o número cai para 2.1.

Ainda assim, se numa roda de conversa com outras mães, você perguntar quem teve parto normal, vai perceber que as estatísticas sobre o parto cesárea no mundo são mesmo alarmantes. Dados do The NHS INformation Centre, na Inglaterra, por exemplo, mostram que 25% dos partos no Reino Unido, entre 2008 e 2009, foram cirúrgicos. Já nos Estados Unidos, em 2005, esse índice já era de 30,2%. No Brasil, os números são ainda mais assustadores. Somente no SUS, 33,25% dos partos realizados em 2008 foram cirúrgicos, de acordo com o Ministério da Saúde, o que representa cerca de 655 mil cesáreas. Todos esses dados contrariam a recomendação da Organização Mundial de Saúde, que determina que esse tipo de parto represente somente entre 10% e 15% do total realizado em um país.


Os benefícios do parto normal

Para o bebê: esse tipo de nascimento é bom porque segue o processo natural. Ela nasce na hora certa, a não ser nos casos de prematuros. Existem várias evidências e especulações de que o trabalho de parto não é meramente uma atitude física de expulsão do bebê, e sim uma alteração de padrão hormonal em que há liberação de hormônios pela mãe e bebê que sinalizam que o momento de nascer está chegando. Outro beneficio é que o tórax do bebê é comprimido ao passar pelo canal de parto, o que faz com que ele expulse secreções das vias respiratórias, tornando-o mais adaptado a respirar.

Para a mãe: além do aspecto psicológico, da satisfação da mulher em poder dar à luz, a recuperação é mais rápida e são menores as chances de complicações após o procedimento, como sangramentos ou infecções, por exemplo.
 

Quando o parto cesárea é realmente necessário?

-->Quando a placenta cobre parcial ou totalmente o colo do útero, impedindo a saída do bebê, a chamada placenta prévia;

--> Caso a mãe tenha herpes genital com lesão ativa até um mês antes do parto;

--> Em casos raros de doenças cardíacas;

--> Se o bebê está atravessado, mas antes é possível tentar ajudá-lo a ficar na posição correta;

--> Nos casos em que a gestante tenha aids com varga viral muito alta ou desconhecida;

--> Quando há descolamento prematuro de placenta;

--> Se a abertura do colo da mãe é pequena para o bebê, algo que ocorre em menos de 5% dos partos;

--> Nas situações em que o cordão umbilical penetra no canal de parto antes do bebê;

--> Se há diminuição drástica no fluxo de oxigênio ou nos batimentos cardíacos, o que ocorre em apenas 1% dos partos.

Fonte: 300 respostas da Crescer sobre gravidez

O normal é o natural






Maternidade Sofia Feldman: parto pode ser feito dentro da água



Ações isoladas, como a de pessoas com curso superior que abraçam a profissão de parteira, ajudam a mudar aos poucos um triste cenário no Brasil, que é campeão mundial em cirurgias cesarianas.

Na Europa e nos Estados Unidos, as parteiras são referência. Lá, existem casas bem equipadas e movimento consolidado de humanização, que prioriza o nascimento natural. Intervenções, como a cesariana, só em casos comprovados de riscos à gestante ou ao bebê, restritas a 15% ou 20% do total, índice bem próximo dos 15% preconizados como ideais pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, ocorre o inverso: impera a cirurgia em quase 80% dos partos em hospitais privados. Na rede pública o índice também é alto, com média de 30% a 40%.

Quando se fala no assunto, muitos brasileiros ainda associam parteiras ao imaginário de experientes mulheres, que aprendiam o ofício na prática e o transmitiam entre descendentes. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, existem cerca de 300 parteiras tradicionais atuantes em Minas Gerais. A maioria delas encontra-se na região do Vale do Jequitinhonha. Desde 2001 o estado reconhece o trabalho dessas mulheres, oferecendo-lhes cursos de aperfeiçoamento. “Elas foram capacitadas a identificar riscos, a estimular clientes a fazer o pré-natal, ganharam kit de material asséptico e passaram a ser elos das equipes médicas da região”, explica a obstetra Márcia Rovena de Oliveira, da Coordenação da Saú­de da Mulher, Criança e Adoles­cen­te.

Bem próximo dali, em Trancoso (BA), a parteira Maria da Glória Teixeira Conceição, 63, é referência local. Dona Glória, como é conhecida, já fez mais de 200 partos, desde que aos 21 anos abraçou a profissão da mãe, Maria Vieira, e da avó, Maria Teixeira. Com as parentes e mais as amigas Frozina, Maria de Irene, Engelina e Igina, dona Glória formava a equipe de parteiras da região. Hoje é a única em atividade, e é tão requisitada que já fez partos com a presença de tradutor, pois foi escolhida por turistas italianas, norte-americanas, alemãs e uma filipina para acompanhar o pré-natal e fazer o procedimento. Dona Glória tem estatística de causar inveja: nunca uma parturiente morreu sob seus cuidados. “Não havia hospital por perto, nem clínicas. Íamos até as casas a cavalo, de bicicleta, a pé, de carro, já fui até na garupa de moto, debaixo de sol ou chuva”, conta. 

Tal realidade vem ganhando ares contemporâneos. Seria uma espécie de volta às origens: enfermeiras obstetras utilizam todo o conhecimento para atuarem como parteiras profissionais, acompanhando gestantes de baixo risco. Foi o que aconteceu em dezembro passado com a nutricionista Andrea Santa Rosa, mulher do ator Márcio Garcia (o Bahuan de Caminho das Ín­dias). Ela escolheu ter em casa seu terceiro filho, Felipe, com a parteira profissional Heloísa Les­sa. O menino nasceu saudável, com 3,9 quilos. Na época, Andrea declarou que “a mulher que não faz um parto assim não sabe o que é parir.” Já a atriz e modelo Fernanda Lima é garota-propaganda de uma campanha de parto normal, depois que deu à luz dessa forma, em abril de 2008, aos gêmeos Francisco e João. “Sendo pessoas públicas e famosas, am­bas contribuem para quebrar pa­drões e mitos. Antina­tural é a cesaria­na”, diz a enfermeira obstetra Miriam Rego Leão,  parteira profissional que assiste partos domiciliares e em hospitais. Professora de obstetrícia e saúde da mulher da PUC Minas, ela faz parte do Movimento BH pelo Parto Normal, da prefeitura, e da ONG Bem Nascer. “Muitas práticas adotadas nos hospitais desfavoreceram que o par­to fosse um momento prazeroso e saudável para a mulher. Ele passou a ser uma vivência traumática, associada a processos cirúrgicos. Ago­ra partimos para um meio termo, modelo humanístico que utiliza toda a tecnologia disponível, mas que torna a mulher partícipe do processo”, conta Míriam.

Outra que atua ostensivamente para o fim da cultura da cesariana é Márcia Koiffman. Mãe de três filhos, todos nascidos naturalmente, a então advogada abandonou a carreira há 15 anos para se dedicar à enfermagem, com foco nas parturientes. Fez especialização e mestrado em obs­tetrícia. Há quatro anos fundou, em São Paulo, a Primaluz – Parteiras Profissionais, em parceria com a também enfermeira obstetra e doutoran­da Priscila Colacioppo. “Des­de então, são mais de 150 partos feitos, sendo que só eu tenho 600 na carreira, e Priscila, mais de mil.” A dupla conta com o apoio de dois médicos pediatras e uma ginecologista. A paciente pode escolher fazer o parto em casa ou em hospital.
Aliás, existem hospitais que oferecem a possibili­dade de realizar partos dentro d’água. É o caso do Sofia Feldman, em Belo Hori­zonte. A maternidade é pioneira em Minas Gerais ao instituir, em 2001, uma casa de parto na qual é priorizado o parto humanizado, com capacidade para 150 atendimentos por mês. A paciente pode escolher como ter o bebê, a melhor posição, ou se prefere métodos não farmacológicos para alívio da dor.

Mas e quando a futura mamãe escolhe o próprio marido para atuar como parteiro? Ao engravidar da segunda filha, Juliane, hoje com 23 anos, a médica pediatra Marli Cristia­ne da Silva tomou uma atitude ousada. Na época, ela cursava o primeiro semestre de medicina na UFMG. Comprou toda a literatura disponível e resolveu treinar seu marido para fazer as vezes de parteira. A decisão pegou de surpresa o engenheiro eletricista Marcelo Campi Lima, avesso a sangue e a ferimentos. “Aos poucos ela foi me convencendo. Meu maior medo era haver uma complicação de última hora.” Tudo correu de forma tranquila. Bruna, 20, a caçula do casal, também foi planejada para nascer em casa. Um descolamento de placenta, aos oito meses de gestação, levou a mãe ao hospital. “Sempre fui radical em minhas decisões. Hoje, se tivesse que repetir o que fiz, poderia até escolher uma parteira, mas com assistência técnica melhor, com aparelhos, em um centro de saúde com mais recursos. Continuo defensora do parto natural, convenço muitas pacientes a fazer o mesmo. Os movimentos dos músculos do canal vaginal sob o neném ajudam a expulsar os líquidos que ficam retidos no pulmão e vias aéreas do bebê”, diz a médica. A esta altura o leitor pode estar se questionando: e o parto da primogênita de Marli, como ocorreu? Foi com uma parteira, em Uruguaiana (RS).

Diferenças entre as vias de parto:

Parto normal
  • Rápida recuperação
  • Me­nos dor pós-parto
  • Menos complicações
  • Amamentação facilitada
  • Curto tempo de internação
  • Menor risco de o bebê nascer prematuro
  • Não-necessidade de separar mãe-bebê

Cesariana
  • Podem ocorrer complicações da anestesia e cirurgia
  • Pro­blemas de cicatrização (queloides)
  • Formação de gases
  • Hemorragias e infecções
  • Há chance maior de retirada do bebê do útero ainda prematuro
  • Riscos em futuras gestações, como ruptura do útero, placenta mal posicionada ou que não se desprende do útero
  • Abalo emocional de ter o filho separado do convívio nas primeiras ho­ras após o nascimento, o que desfa­vorece a amamentação
  • Risco de morte é 7 vezes maior para a mulher e 2 vezes maior para o bebê se comparado ao parto normal


Fonte
Texto: Vanessa de Cobucci | Fotos: Pedro Vilela

Pesquisa mostra que gestantes precisam de mais informação para optar por parto natural

A informação sobre os procedimentos a que serão submetidas é fundamental para que as mulheres optem pelo parto natural. A conclusão faz parte de um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“As mulheres que escolhem parto humanizado se informam antes”, aponta Rosamaria Giatti Carneiro, autora da tese Cenas de Parto e Políticas do Corpo: uma Etnografia de Experiências Femininas do Parto Humanizado.

Para a antropóloga, é fundamental que as mulheres conheçam os procedimentos médicos e saibam das consequências da opção (cesárea ou normal) para a própria saúde.

A pesquisa qualitativa acompanhou 18 grávidas, portais e grupos de discussão na internet sobre gestação e parto humanizado e aponta como atitude e decisão das mulheres a escolha da forma do parto, como de cócoras, em casa ou mesmo no hospital, mas com baixa dose de anestesia.

Para Rosamaria, a escolha pelo parto natural acaba por “resignificar” o fim da gestação.“Não é só um evento fisiológico ou ato médico. Elas relatam uma experiência rica e linda”. Ainda segundo ela, a escolha desconstrói o imaginário social de que parir dói. “O limite da dor é subjetivo”, destaca, antes de dizer que as mulheres que optam pelo parto natural sentem-se bem e confiantes.

Apesar das vantagens do parto normal, o Brasil é campeão mundial em cesarianas. Em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais (52%). Na rede privada, o índice de partos por cesariana chega a 82% e na rede pública, 37%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de cesarianas fique em torno de 15%.

Na opinião da antropóloga, muitas cesarianas são feitas porque as mães temem que o bebê possa ficar em “sofrimento”. “Se o médico usa essa palavra, as mulheres acabam optando pelo  procedimento cirúrgico.” Ela reforça, no entanto, que a decisão deve ser feita sob consulta médica e que os cuidados durante o pré-natal são fundamentais.

Fonte: aqui!

Quer dizer que você quer parto normal?


 
Foto do livro: Parto com amor

Quando o assunto é parto, você diz “quero parto normal” ou “vou tentar normal” (e não se fala mais nisso)?

Você acredita que, para ter parto normal, basta querer e torcer para que tudo dê certo?

Você escolheu um médico do plano que se diz favorável ao parto normal, mas que diz “não se preocupe com isso, do parto cuido eu”?

Se você respondeu “sim” a qualquer uma dessas perguntas, você precisa ler este post. Se você conhece alguém que se encaixa nesse perfil, por favor, repasse o link para ela.

Eis os FATOS: se você vai ter seu filho na rede privada, a probabilidade de acabar numa cesárea se aproxima de 90%. Pense bem: quantas amigas suas começaram naquele quadro acima (“quero normal, meu médico diz que faz”) e terminaram numa cesárea? Não quero te desapontar (pelo contrário, quero ajudar!), mas a verdade é que parto normal não é para qualquer uma. É para quem pode – para quem pode correr atrás de informações confiáveis, pode encontrar a coragem para mudar de médico se o dela for cesarista, pode pagar um obstetra fora do plano ou optar pela rede pública se necessário, pode olhar para dentro e enfrentar seus demônios, pode peitar o marido, a mãe e o escambau. A boa notícia é que você pode ser uma mulher dessas.

Se você quer MESMO parto normal, seguem abaixo 7 dicas para aumentar as chances de ter o parto que você deseja e merece:

1. Informe-se
Parto normal no Brasil é exceção. Especialmente se você tem plano de saúde. Isso significa que você precisa estar ciente das possíveis armadilhas que fazem as mulheres caírem na cesárea, mesmo sem querer. Que armadilhas? Entre elas: os mitos sobre o parto, as falsas indicações de cesáreas, a realidade sociocultural e econômica (em que o normal é o parto cirúrgico), o sistema tecnocrático e voltado para lucros e a formação e a atitude da equipe que vai te acompanhar. Você não precisa mudar nada disso – se quiser tentar, ótimo! – mas não pode fingir que vive num mundo cor de rosa em que o médico vai deixar a natureza seguir seu curso, a equipe do hospital está lá pra te ajudar e o que quer que aconteça estava “escrito nas estrelas”. Acorde e deixe seus olhinhos bem abertos. Ou volte a acreditar em duendes (quer dizer, médicos bonzinhos) e depois não se surpreenda se acordar com uma bela de uma cicatriz na barriga.

2. Escolha um obstetra realmente favorável
A melhor forma de saber se o seu GO “faz” parto normal mesmo (quem faz é a mulher, mas já que essa é a expressão, estou adotando-a aqui, entre aspas) é através da indicação de mulheres que pariram com ele. Se isso não for possível, dê uma de detetive e procure pistas de que ele possa te induzir à cesárea. Fique atenta aos seguintes sinais: ele nunca desmarcou uma consulta (parto normal não tem hora marcada); no consultório, tem várias pacientes chegando para tirar pontos e meia dúzia de grávidas com a barriga do tamanho da sua (ou seja, não vai dar para esperar o trabalho de parto de todas elas); ele não gosta de falar sobre o parto e diz coisas como “deixa isso comigo”; ele é fã das táticas do medo (“o importante é a saúde do bebê”) e vive procurando pêlo em ovo (“temos que ficar de olho nesse líquido…”). Mesmo que ele seja muito querido, muito fofo e te conheça há anos, não se iluda: se ele faz cesárea em 90% dos casos, a sua chance de parir com ele é 1/10.

3. Procure apoio virtual e local
Quem nada contra a maré requer muito apoio e incentivo. Nada melhor que se juntar a pessoas que te entendem, já passaram por isso, e se empenham para ajudá-la a conseguir atingir o seu objetivo. Para isso, sugiro que você participe de listas virtuais como a PartoNosso do Yahoo Grupos, comunidades como a GPM – Gestação, Parto e Maternagem no Facebook e que procure também um grupo de apoio local, onde possa olhar nos olhos de outras mães, ouvir suas experiências e trocar recomendações. Aqui no Rio tem o Ishtar, grupo incrível, coordenado por gente maravilhosa e frequentado por mulheres de todos os tipos (inclusive euzinha).  Também tem Ishtar em Belém, Sorocaba e Recife, e sei que São Paulo tem o Gama, BH tem o Bem Nascer e Curitiba tem o Espaço Aobä. E não devem ser os únicos. Procure por esses grupos, vá a um encontro (são gratuitos) e saiba que você não está sozinha.

4. Prepare sua cabeça (e o corpo também)
É preciso muito preparo psicológico para se manter firme num desejo que, lastimavelmente, é tão difícil de se realizar na atual conjuntura. É preciso coragem para dizer tchau para seu médico de anos na 37a semana e procurar um novo profissional; força (e paciência) para não ceder aos protestos da família e dos amigos que não entendem porque você não marca a cesárea como todo mundo; convicção para usar suas economias para bancar uma equipe realmente alinhada com seu plano de parir; fé para se permitir parir como manda a natureza. Minhas dicas: leia livros e relatos de parto positivos (fuja de programas de TV, de maneira geral) e faça terapia. Além da força psicológica e emocional, também é legal preparar o corpo para as posições e as sensações do parto (yoga para gestantes e massagem perineal são duas opções que vêm à mente). Mas não se iluda: a cabeça é muito mais importante que o corpo nesse processo de parir.

5. Seja sujeito
É muito cômodo (e perigoso) entrar no papel da “mãezinha” ou “gravidinha” (primas-irmãs da “princesinha”) e deixar que todas as decisões sejam tomadas por você: pelo médico, por sua mãe, pelo marido… Se você tem a intenção de parir, você precisa se recusar a ocupar esse lugar. Porque uma mulher que dá a luz é protagonista, e não um objeto ou um coadjuvante do processo. Ser sujeito significa, entre outras coisas, questionar, se examinar, refletir, sentir, escolher, rebolar (em ambos os sentidos), viajar para a partolândia e dar um belo de um FODA-SE pra todas aquelas pessoas que teimam em te julgar. Ser sujeito significa viver de acordo com a sua verdade e sentir na pele as suas escolhas, e não ser vítima das decisões de terceiros.

6. Contrate uma doula
Para quem não sabe o que é uma doula e qual a importância dela no parto, prometo um post longo e detalhado em breve. Por enquanto, vou ser econômica e dizer que a doula acompanha a gestante antes, durante e após o parto; sua função é servir de apoio e conforto. A doula não é profissional de saúde e nem faz parte da equipe médica: ela acompanha a mulher, oferecendo palavras de incentivo, um toque carinhoso e um porto seguro para a parturiente (e, muitas vezes, também para seu companheiro). Em suma, a doula é uma amiga que já viu muitas mulheres parindo. Por isso, é importante  conversar muito com ela antes do parto, sentir-se bem com ela e criar um laço de afeto e confiança. Você pode achar que doula é modismo ou frescura, mas a história e as evidências mostram o contrário: doulas existem há milênios e sua presença na sala de parto diminui o índice de cesárea, analgesia e depressão pós-parto e aumenta a satisfação materna e o índice de amamentação (entre outros benefícios). Se você é carioca, visite a página do Núcleo Carioca de Doulas no Facebook para se conectar com profissionais da área.

7. Não saia correndo para o hospital
Pensei se deveria mesmo incluir esta última dica – obviamente, não quero ser culpada depois por uma leitora que teve seu filho no táxi! -, mas como não tem como negar que um dos fatores de cesárea é a impaciência dos médicos (a famosa desculpa “não teve dilatação”) optei por colocá-la. A não ser que esteja com uma equipe de parto humanizado, a melhor maneira de se proteger da cesárea intraparto é chegar ao hospital em trabalho de parto ativo, com mais de 7 cm de dilatação e, de preferência, dilatação total. Eu sei que é difícil se imaginar fazendo isso – “correndo esse risco” – mas é mais comum chegar cedo demais e sofrer um parto cheio de intervenções desagradáveis ou até mesmo uma cesárea do que acabar parindo a caminho da maternidade (apesar desses casos saírem mais na mídia!). Se você não tem plena confiança na equipe médica e sente que o médico pode acabar fazendo uma cesárea de última hora, essa é a dica que eu deixo para você (de preferência, siga também a dica número 6).

Fonte: aqui!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Caros cesaristas de plantão: elas pedem ajuda e não cesárea!!" — com Braulio Zorzella

E enquanto isso em Jaú (interior de São Paulo)... no SUS...

"Ela chegou gritando e esperneando como se estivesse sendo torturada... A conheci hoje, no plantão de retaguarda da maternidade que tem 98% de cesáreas pelo SUS, restanto os 2% de Parto Normal dos dias que estou de plantão, isso mesmo
que ouviram 98% de cesáreas pelo SUS! 
 

Ela com 23 anos, terceira gestação, 2 cesáreas anteriores, 38 semanas, bolsa rota e 5cm de dilatação, colo finíssimo, apresentação baixa. A mãe chorando e as duas juntas pedindo "PELO AMOR DE DEU DOUTOR, FAÇA UMA CESÁREA". Sentei ao seu lado no pré-parto, apaguei as luzes, pedi pra enfermagem sair (nesse hospital elas não tem a mínima prática com PN). Entre as contrações ela acalmou-se porém durante elas virava bicho e não ouvia nada, se contorcendo e gritando que o médico do pré-natal falou que ela não podia ter parto normal de jeito nenhum pois no caso dela era impossível! Perguntei se ela já quis algum dia ter PN e ela disse que sempre quis mas os médicos sempre falaram que ela não podia. No primeiro bacia estreita, no segundo não dilatou e agora pois já tinha 2 cesáreas.

Insisti mais um pouco em tentar acalmá-la e explicar os possíveis benefícios do bebê nascer natural, mas foi em vão naquele momento. A enfermagem e a pediatra me olhando com olhos de "oque vc está esperando pra chamar o anestesista pra cesárea?". Falei em voz baixa PARA O BEBÊ NÃO OUVIR: "Liga pro anestesista e diga que teremos uma cesárea!" Percebi que contentei a todos nesse momento. A paciente, a mãe, a enfermagem e a pediatra. Chegou o anestesista que não viria para uma analgesia de parto se eu chamasse, mas... pedi que fizesse uma dose menor apenas para tirar a dor mas que não seria cesárea!

Todos se assustaram..."Como assim? Com 2 cesáreas anteriores? Aquele olhar de "ele deve estar louco!". Anestesia feita, a dor passa, suficiente pra EU CONSEGUIR CONVERSAR COM ELA: "E agora, está bom pra vc assim? A dor melhorou? Seu problema está resolvido? Vamos resolver o do bebê agora. O bebê está super bem, e me disse que está querendo muito nascer de parto normal. Ele não sabe ainda que vai ser cesárea. Ele está na posição e quase saindo e vc tem a passagem ótima pra ele, vamos tentar ou se preferir ainda posso fazer a cesárea". Ela me olhou, arregalou os olhos ao mesmo tempo que veio um puxo e começou a fazer força...Ela sorriu e percebeu que podia... Fez mais força e se empolgou! Na terceira ele nasceu perfeito e com nota 10 do pediatra. Foi ao colo da mãe que o beijou muito dizendo: Sempre me falaram que eu não ia conseguir! Não acredito que consegui fazer isso!... Caros cesaristas de plantão: elas pedem ajuda e não cesárea!!"