domingo, 25 de novembro de 2012

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA - A VOZ DAS BRASILEIRAS




Neste 25 de novembro de 2012, completamos um ano de ações coletivas nas mídias sociais, sempre com objetivo de dar mais visibilidade ao tema da violência obstétrica e de desnaturalizar as infrações aos direitos das mulheres, cometidas pelos profissionais de saúde, que muitas vezes passam desapercebidas.

São ações coletivas organizadas por usuárias, pesquisadoras e profissionais da saúde com o objetivode promover o debate, sensibilizar, denunciar e ir adiante, até que se consiga que políticas públicas efetivas sejam promovidas no sentido de erradicar a violação dos direitos humanos das mulheres no parto.Embora estejamos mobilizando centenas de pessoas e falando com cada vez mais frequência sobre oassunto, é importante que as pessoas saibam o histórico do movimento contra a violência no parto - a violência obstétrica, nome que as próprias mulheres cunharam para tais práticas.

Em agosto de 2010, a Fundação Perseu Abramo, em parceria com o SESC, realizou a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado, onde apresenta a evolução do pensamento e do papel das mulheres em nossa sociedade. Foram entrevistados centenas de homens e mulheres em mais de 170 municípios brasileiros.
Os resultados sobre o tema da violência contra as mulheres chamaram muito a atenção e, neste

contexto, surgiu um dado alarmante sobre a violência institucional sofrida pelas brasileiras: uma em cada quatro mulheres (25%) relatou ter sofrido algum tipo de violência na hora do parto. Dentre as diversas formas possíveis de abusos e maus-tratos, tiveram destaque: exame de toque doloroso, recusa para alívio da dor, não explicação de procedimentos adotados, gritos de profissionais ao ser atendida, negativa de atendimento, xingamentos e humilhações. Além disso, 23% das entrevistadas ouviu de algum profissional algo como: “não chora que ano que vem você está aqui de novo”; “na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe”; “se gritar eu paro e não vou te atender”; “se ficar gritando vai fazer mal pro neném, vai nascer surdo”.




Esses dados chocantes começaram a ganhar repercussão na mídia, com matérias em jornais de grande circulação, publicadas em fevereiro de 2011.

Em abril do mesmo ano, a Comissão Permanente de Saúde, Promoção Social, Trabalho, Idoso e Mulher realizou um debate com o tema “Maltrato no atendimento em maternidade e no pré-natal”, na Câmara Municipal de São Paulo, reunindo cerca de 70 pessoas, entre elas o coordenador da pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, o sociólogo e professor da USP Gustavo Venturi, a médica Anke Riedel, coordenadora da Casa Ângela, casa de parto considerada modelo no Brasil, a enfermeira e coordenadora do curso de Obstetrícia da USP Nádia Zanon Narchi, a representante do Programa Mãe Paulistana, Maria Aparecida Orsini e a bióloga Ligia Moreiras Sena, uma das autoras da ação coletiva que apresentamos hoje. 
Neste evento, o professor Gustavo Venturi apresentou os dados sobre violência no parto acima mencionados e, em entrevista para a jornalista da Câmara, afirmou: “São três os principais problemas que ocorrem e acabam gerando a violência no parto. A primeira é a questão da formação dos profissionais, em segundo vem a superlotação das instituições e, em terceiro, as mulheres não são adequadamente preparadas para o momento do parto”.


A partir de então, os coletivos femininos começaram a se mobilizar em termos de circulação de informação, denúncia da situação da assistência obstétrica brasileira, reivindicação de direitos, discussão sobre o assunto. E as mídias sociais apareceram como fator catalisador crucial para todas as ações que se seguiram.


Em 24 de novembro de 2011, no contexto de uma grande ação das Blogueiras Feministas, realizamos a primeira Blogagem Coletiva sobre o tema - “Violência Obstétrica é Violência Contra a Mulher”. Dezenas de blogueiras participaram com textos autorais livres publicados no dia 25 de novembro e, desde então, muitos relatos foram produzidos, mulheres que usaram o texto para organizar a experiência vivida - e que talvez possam ter sido beneficiadas de alguma forma com tal escrita, e beneficiado outras mulheres por meio da leitura. Neste dia, a pesquisadora Ligia Moreiras Sena também lançou nas mídias sociais o convite à participação em sua pesquisa de doutorado, sobre a violência obstétrica na percepção das mulheres que a viveram e, por meio do Facebook, dos blogs e do Twitter, centenas de mulheres se inscreveram para serem entrevistadas. Em um esforço de divulgação, foi aproveitado o Twittaço que ocorreu utilizando a hashtag #FimDaViolenciaContraMulher para contactar pessoas que pudessem ajudar na disseminação do convite à pesquisa.

Em nossa segunda ação de ciberativismo, coordenada para o Dia Internacional da Mulher - 8 de Março de 2012, alcançamos  certamente mais de duas mil mulheres, com a força de divulgação coletiva de 75 blogs.
Foi o Teste da Violência Obstétrica. Promovido pelos blogs Parto no Brasil, Cientista

Que Virou Mãe e Mamíferas o instrumento foi idealizado a partir de documento original da associação civil argentina Dando a Luz, e o Coletivo Maternidade Libertária, disponível em algumas publicações na Internet, em blogs e sites, datadas de 2010. Para a divulgação no Brasil, o documento foi revisado e adaptado à proposta desta Blogagem Coletiva. As questões abertas foram transformadas em um questionário com múltiplas escolhas, onde incluímos uma importante caracterização sociodemográfica, e contamos com a força de divulgação das mulheres conectadas em suas redes virtuais. Em apenas três dias compilamos mais de mil resultados. E seguimos com o recebimento de novas respostas durante 38 dias. Ao final do prazo, 1966 nascimentos foram avaliados
Conseguimos atingir nosso principal objetivo, que era dar grande visibilidade a esta questão nas mídias sociais, entre as mães editoras de blogs e demais usuárias da Internet. E os resultados não poderiam deixar de ser surpreendentes. A expressiva participação no Teste da Violência Obstétrica era apenas um indicativo da força que as mulheres, juntas, têm para denunciar um grave problema de cidadania, de falta de oportunidades, de nenhum direito de escolha.

Então em 1o. de agosto de 2012, um grupo de mulheres ativistas mineiras avançam mais um pouco no contexto da luta contra a violência no parto. Em um marco histórico, conseguiram levar a cabo a Audiência Pública “Violência no Parto” na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Estiveram presentes usuárias do sistema de saúde, obstetrizes, doulas, ativistas, políticos e estudantes, em um evento que acionou entidades médicas do estado e o Ministério Público para abrir o debate.

Em outubro de 2012, uma terceira Postagem Coletiva reuniu os esforços necessários para que o vídeodocumentário "Violência Obstétrica - A Voz das Brasileiras" pudesse ser produzido. Em menos de dois meses, fizemos um roteiro para os depoimentos individuais, convidamos as mulheres a nos enviarem suas histórias de vida, com consetimento, para participação. As participantes gravaram vídeos caseiros com seus depoimentos, suas histórias de violência, intolerância, ignorância e racismo que marcaram seus corpos e suas vidas, e nos enviaram. As chamadas podem ser vistas nos blogs Cientista Que Virou Mãe e Parto no Brasil. Em poucos dias, conseguimos editar, com a ajuda do fotógrafo e videomaker Armando Rapchan, os vídeos recebidos e mais dezenas de fotografias, em um vídeo final de 52 minutos. Escolhemos por manter o caráter de produção caseira dos depoimentos.  O documentário foi então lançado no dia 17 de novembro último, como parte das comunicações científicas coordenadas do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, ocorrido em Porto Alegre.

Assim, decorrido 1 ano após o início de nossas ações de ciberativismo, divulgamos hoje, 25 de novembro de 2012, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, o vídeodocumentario “VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA - A VOZ DAS BRASILEIRAS”. Ele representa o trabalho de dezenas de mulheres na luta contra a violência obstétrica. Com a voz de algumas delas, simbolizamos o coro de milhares de brasileiras que vivem desrespeitos aos seus direitos reprodutivos cotidianamente, em um processo tornado banal e rotineiro. Queremos ser representadas, queremos que nossas vozes sejam ouvidas e que, de alguma forma, impulsionem medidas que visem a erradicação da violenta assistência ao parto no Brasil.

Queremos agradecer, em primeiro lugar, às mulheres que muito corajosamente se dispuseram  a tocar em suas próprias feridas, em suas próprias dores, a fim de problematizar a questão e formar um coro de vozes. Queremos agradecer também às dezenas de mulheres que nos enviaram fotografias dos partos/nascimentos de seus filhos e que, por limitação de tempo, não puderam ser utilizadas. Queremos agradecer a todos que, direta ou indiretamente, nos ajudaram e incentivaram na produção desta ação.

Esse vídeo foi realizado de maneira espontânea e voluntária por:
- Bianca Zorzam, obstetriz, aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo;
- Ligia MoreirasSena, bióloga, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, autora do blog Cientista Que Virou Mãe;  - Ana CarolinaArruda Franzon, jornalista, aluna de mestrado do Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da Universidade de São paulo e co-editora do blog Parto no Brasil;
- Kalu Brum, jornalista, doula e co-editora do blog Mamíferas.- Armando Rapchan, fotógrafo e videomaker.
Melhorar a qualidade da atenção ao parto e nascimento é um desafio complexo, que deve contar com a colaboração multi-setorial de vários agentes: profissionais de saúde, gestores, pesquisadores e docentes, e ainda, as mulheres, por meio do controle social.

Assim, agradecemos cada pessoa envolvida nesta ação e convidamos a todas e todos para contribuírem com o enfrentamento desta forma de violência contra as mulheres, com propostas e encaminhamentos inovadores. Pelo respeito aos direitos humanos femininos. Pela redução das mortes maternas. Pela promoção da saúde das gestantes e dos bebês. Por formas inovadoras de organização dos serviços, e pela adoção massiva das boas práticas na assistência ao parto normal.
“Que nossas vozes sejam ouvidas. Que nossas histórias não sejam ignoradas...”

Texto do Blog Cientista que virou mãe

sábado, 10 de novembro de 2012

A importância do pai na gestação e no parto

Um lindo trabalho realizado pelas doulas de Brasília, DF. - REHUNA
Demonstra a importância e o papel do pai desde a gestação até o parto.
Relatos emocionantes feitos por pais.



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Plano de parto




O que é um plano de parto?

Mais que um documento, é uma forma de você entrar em contato com os procedimentos normalmente relacionados com o parto e nascimento. É uma lista de itens relacionados ao parto, sobre os quais você pensou e refletiu, e isto inclui escolher onde você quer ter seu bebê, quem vai estar presente, quais são os procedimentos médicos que você aceita e quais você prefere evitar.

Porque fazer um plano de parto?

Hoje em dia, e cada vez mais, são feitas intervenções com a própria gestante e também com o bebê que não possuem nenhum respaldo ou evidência científica. Muitas dessas intervenções podem e (devem !!) ser evitadas, e a gestante tem direito de participar das decisões que envolvem seu bem estar e de seu bebê.
Cada detalhe é muito importante e pode fazer grande diferença na maneira como essa mulher vai passar pela experiência do parto e por isso suas vontades devem ser respeitadas.

Modelo



PLANO DE PARTO
Estamos cientes de que o parto pode tomar diferentes rumos. Abaixo listamos nossas preferências em relação ao parto e nascimento do nosso filho, caso tudo transcorra bem. Sempre que os planos não puderem ser seguidos, gostaríamos de ser previamente consultados a respeito das alternativas.
Trabalho de parto
  • Presença de meu marido e doula.
  • Sem tricotomia (raspagem dos pelos pubianos) e enema (lavagem intestinal).
  • Sem perfusão contínua de soro e ou ocitocina.
  • Liberdade para comer, beber água e sucos enquanto seja tolerado. Liberdade para caminhar e escolher a posição que quero ficar
  • Liberdade para o uso ilimitado da banheira e/ou chuveiro
  • Monitoramento fetal: intermitente e não contínuo
  • Analgesia: peço que não seja oferecido anestésicos ou analgésico. Eu pedirei quando achar necessário. A preferência é para métodos naturais. Sem rompimento artificial de bolsa.
Parto
  • Na banheira ou de cócoras ou semi-sentada (costas apoiadas). Conforme minha vontade na hora.
  • Aceito outras sugestões caso as posições acima não funcionem.
  • Prefiro fazer força só durante as contrações, quando eu sentir vontade, em vez de ser guiada. Gostaria de um ambiente especialmente calmo nesta horaNão vou tolerar que minha barriga seja empurrada para baixo.
  • Episiotomia: prefiro não ter. Para prevenir laceração gostaria que o períneo fosse amparado na fase da expulsão, além da apliação de compressas quentes e massagem com óleo fornecido pela doula.
  • Gostaria que as luzes fossem apagadas (penumbra) e eventualmente ter música relaxante e que o ambiente estivesse com temperatura que eu julgue agradável. Quero um ambiente calmo e tranquilo para meu bebê nascer
  • Gostaria de ter o bebê imediatamente colocado em meu colo e se houver necessidade de succionar as vias respiratórias, prefiro que o profissional faça enquanto o bebê está comigo
  • O pai cortará o cordão umbilical, depois que parar de pulsar.
Após o parto
  • Aguardar a expulsão espontânea da placenta, sem manobras, tração ou massagens. Se possível com auxílio da amamentação.
  • Quero o bebê comigo o tempo todo, mesmo para exames e avaliação.
  • Liberação para o apartamento o quanto antes com o bebê junto comigo.
  • Alta hospitalar o quanto antes.


Cuidados com o bebê
  • Administração de nitrato de prata ou antibióticos oftálmicos se necessário.
  • Administração de injeção de vitamina K.
  • Quero fazer a amamentação sob livre demanda.
  • Em hipótese alguma, oferecer água glicosada, bicos ou qualquer outra coisa ao bebê.
  • Alojamento conjunto (com bebê e com o pai) o tempo todo.
  • Gostaria que o bebê não tivesse retirado de seu corpo todo o vernix e que o primeiro banho fosse adiado.
  • Pediatra faz avaliação no nosso quarto
Caso a cesárea seja necessária
  • Exijo o início natural do trabalho de parto antes de se resolver pela cesárea.
  • Quero a presença da doula e de meu marido na sala de parto.
  • Anestesia: Gostaria de ser consultada sobre as melhores opções conforme o caso. Não quero sedação em momento algum. Na hora do nascimento gostaria que o campo fosse abaixado para que eu possa vê-lo nascer.
  • Gostaria que as luzes e ruídos fossem reduzidas e o ar condicionado desligado.
  • Após o nascimento, gostaria que colocassem o bebê sobre meu peito e que minhas mãos estejam livres para segura-lo. Gostaria de permanecer com o bebê no contato pele a pele enquanto estiver na sala de cirurgia sendo costurada e enquanto o pediatra estiver examinando.
  • Também gostaria de amamentar o bebê e ter alojamento conjunto o quanto antes.
Agradecemos muito a equipe envolvida e a ajuda para tornar esse momento especial e tão importante para nós em um momento também feliz e tranqüilo, como deve ser.

Local e data,

Assinatura dos pais
 



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Planejando o "SEU" parto!




Planejando cada etapa
Toda gestante pode ter um plano de parto, que é uma lista de desejos por escrito. No caso de um parto sem complicações, é perfeitamente possível que a equipe médica siga seu plano, que pode ser feito com o obstetra e deve ser levado, impresso, no dia do parto.
— Os casais brasileiros estão percebendo cada vez mais que os médicos e profissionais da saúde bem-intencionados nem sempre têm respaldo científico que sustentem as práticas obstétricas comuns e que muitas dessas práticas são adotadas simplesmente por serem parte de uma tradição médico-hospitalar — afirma Ana Cris Duarte, do site Amigas do Parto.
— O pai ou mesmo a mãe pode ter uma conversa prévia com o neonatologista, com o anestesista, com os enfermeiros. Explicar suas preferências. Mostrar o plano de parto para eles e combinar a possibilidade dele ser respeitado — recomenda a psicóloga e doula Clarissa Khan.
É indicado que seu plano de parto tenha indicações tanto para um trabalho de parto normal, quanto para uma cesariana.

O que pode constar em um plano de parto:- O local onde você deseja parir: em casa, na casa de parto, no hospital?
- Quem serão seus acompanhantes.
- Desejos como liberdade de caminhar, uso da água no trabalho de parto, liberdade para ingestão de alimentos e bebidas, aparelho de som ligado no momento do parto, luz baixa.
- Infusão intravenosa apenas se houver indicação médica.
- Rompimento espontâneo da bolsa d’água.
- Clampeamento do cordão umbilical apenas depois que ele parar de pulsar, com o corte feito pelo pai.
- Bebê colocado imediatamente no colo da mãe (ou sobre a barriga ou nos seus braços).
- Bebê amamentado assim que possível.
- Tirar fotografias ou filmar o parto.

 PESQUISE, INFORME-SE E DECIDA!!!

Conheça importantes pesquisas que fortalecem a corrente do parto humanizado:

- A questão do clampeamento do cordão umbilical
O cordão umbilical é um elo entre mãe e filho de vital importância. É por ele que a placenta faz a troca gasosa com o feto e envia os nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Quando a criança nasce, o cordão umbilical, ainda ligado à placenta, continua enviando sangue oxigenado. Dando tempo para que os pulmões do bebê se adaptem às novas condições e realize os movimentos de inspiração e expiração sem pressa. De forma gradativa. Enquanto o cordão umbilical pulsa, ele ainda está fazendo a troca. Levando em consideração estudos que apontavam que o corte tardio do cordão umbilical, e não imediato, reduzia o risco de anemia em crianças (por aumentar a concentração de hemoglobina e ferro no sangue), a pesquisadora e pediatra Sônia Venâncio pesquisou, no ano de 2006, as consequências do corte imediato do cordão umbilical, praticado em grande parte dos partos e apoiado nos seguintes argumentos: ele preveniria a icterícia, a policitemia e a anemia materna.
Sônia analisou 109 casos de cortes imediatos e 115 casos de cortes tardios, investigando a relação do clampeamento do cordão umbilical com a diminuição dos estoques de ferro em bebês com até 6 meses de vida. Os resultados encontrados confirmaram os benefícios do corte tardio por, de fato, aumentar o estoque de ferro. E, desmitificando a antiga crença, não foram verificadas no estudo maior frequência de icterícia, policitemia ou complicações maternas decorrentes do clampeamento tardio do cordão umbilical.
— Deve-se permite que a função pulmonar se estabeleça gradualmente. Para que o bebê possa expelir as secreções com tranquilidade e respirar de maneira mais fisiológica — adverte o obstetra Thomas Gollop.

- Ultrassonografias
Um estudo da pesquisadora Maria do Carmo Leal apontou que muitos filhos de cesarianas eletivas (pré-marcadas) nascem antes do tempo ideal. O motivo seria o fato das ultrassonografias terem uma margem de erro que nem sempre é considerada. Muitas crianças acabam nascendo imaturas, com 35 a 36 semanas (pré termo tardias), quando os médicos achavam que ela tinha 38 semanas.
— O bebê nasce com desconforto respiratório, angústia e, em vez de amadurecer no ventre materno, acaba indo para uma máquina incubadora. E ninguém explica para a mãe, que fica angustiada, o que realmente desencadeou a internação do recém-nascido. Isso é um problema sério. A natureza tem sua sabedoria. O trabalho de parto indica a maturidade da criança, inicia na hora certa — alerta a médica Daphne Rattner.

Fique atento
No documento divulgado pela Organização Mundial de saúde, algumas práticas comuns na condução do parto normal são classificadas, com base em evidências científicas e em debates de profissionais. Separamos as mais populares:

1. Uso rotineiro de enema (lavagem intestinal):
O que diz a OMS: os enemas supostamente estimulam as contrações uterinas e o intestino vazio facilitaria a descida da cabeça do bebê pelo canal vaginal. Também evitaria contaminação. Entretanto, essa é uma prática incômoda que apresenta risco de lesão intestinal.
O que dizem os estudos: dois estudos (Rommey e Gordon, 1981, e Drayton e Rees, 1984) não detectaram efeitos sobre a duração do trabalho de parto ou sobre infecção neonatal ou infecção da incisão de episiotomia.

2. Uso rotineiro de tricotomia (raspagem dos pelos pubianos)
O que diz a OMS: a tricotomia é considerada desnecessária e somente deve ser realizada a pedido da mulher.
O que dizem os estudos: são de 1922 (Johnston e Sidall) e 1965 (Kantor) os estudos que derrubam a tese de que a tricotomia reduziria riscos de infecção e facilitaria a sutura. O uso rotineiro, pode, inclusive aumentar o risco de infecção pelos vírus HIV e da hepatite, tanto para o parteiro quanto para a parturiente.

3. Infusão intravenosa e suspensão da ingestão de líquidos e sólidos
O que diz a OMS: as opiniões sobre a necessidade de nutrição intravenosa durante o parto variam amplamente em todo o mundo. O trabalho de parto requer enorme quantidade de energia. Como não se pode prever sua duração, é preciso repor essas fontes de energia. A restrição severa da ingestão oral de alimentos pode levar à desidratação.
O que dizem os estudos: essa necessidade de energia é normalmente compensada por uma infusão intravenosa de glicose. Estudos que datam de 1980, 1981 e 1982 apontaram que o aumento da glicose acompanhava um aumento nos níveis maternos de insulina, o que pode levar a uma série de complicações, que podem ser evitadas com a simples oferta de líquidos e alimentos leves para a gestante ingerir.

4. Recomendação de que a gestante fique deitada
O que diz a OMS: ficar deitada durante o primeiro estágio do trabalho de parto afeta o fluxo sanguíneo uterino, podendo comprometer o estado fetal.
O que dizem os estudos: para publicações como Ambulation in labour e Upright posture and the efficiency of labor, a posição supina (deitada com a barriga para cima) também reduz a intensidade das contrações, interferindo no progresso do trabalho de parto. Ficar de pé está associado a uma maior intensidade e maior eficiência das contrações.

5. Administração de ociócitos e ruptura mecânica da bolsa d’água
O que diz a OMS: esse é um método de prevenção do trabalho de parto prolongado. Muitas vezes, essas ações são iniciadas de forma tão precoce, mesmo não apresentando nenhum motivo válido para tal.
O que dizem os estudos: um estudo controlado (O’Driscoll, 1973) verificou aumento considerável de desacelerações de batimentos cardíacos fetais após a ruptura precoce da bolsa. Quanto à infusão de ocitocina, não existem benefícios comprovados de seu uso. Sua infusão inibe a produção natural da ocitocina e pode deixar o trabalho de parto ainda mais doloroso.

6. Controle da dor por analgesia peridural
O que dia a OMS: a peridural fornece um alívio melhor e mais duradouro da dor que muitos outros métodos. Mas exige condições importantes: o trabalho de parto deve ocorrer em um hospital bem equipado e sobre a constante supervisão de um anestesista. Porém, com seu uso, há uma tendência para que o primeiro estágio do trabalho de parto seja mais longo.
O que dizem os estudos: um estudo americano recente apontou que o número de cesarianas aumentou quando a analgesia peridural foi usada durante o trabalho de parto.
 
7. Uso liberado da episiotomia
O que diz a OMS: a episiotomia é um corte cirúrgico feito na região do períneo. Ele visa facilitar ou acelerar a saída do bebê e evitar uma laceração de terceiro grau. Porém, uma vez que a incidência de laceração de segundo grau é de cerca de 0,4%, o diagnóstico perde seu significado. Não existem evidências de que seu uso rotineiro seja benéfico.
O que dizem os estudos: o uso liberal da episiotomia está associado a maiores taxas de traumatismo ao períneo. Com ou sem o uso do método, mulheres tiveram um grau comparável de dor perineal avaliada aos 10 dias e 3 meses após o parto.

LEMBRE-SE o parto é seu!! Só você, mulher, pode decidir!!! Colha os frutos desse planejamento e tenha um lindo parto! :)

Fonte

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O risco de agendar uma cesárea sem necessidade



Novo estudo mostra que o risco de morte do bebê que nasce antes de 39 semanas é maior do que aqueles que chegam ao fim da gestação.

Cada vez mais os estudos confirmam e alertam o quanto adiantar o parto sem necessidade, mesmo que em poucas semanas, traz riscos para o bebê. Um deles, publicado este mês na revista científica Obstetrics & Gynecology, revelou que antes de 39 semanas há risco de morte para a criança.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas da March of Dimes Foundation, uma organização não governamental que encabeça campanhas nos Estados Unidos para evitar nascimentos prematuros, analisaram mais de 46 milhões de nascimentos, usando dados do National Center for Health Statistics U.S. O resultado revelou que a taxa de mortalidade infantil era de 1.9 para cada 1.000 bebês nascidos na 40a semana de gestação e subia para 3.9 para aqueles nascidos pouco antes, na 37a semana.

De acordo com Antônio Júlio de Sales Barbosa, ginecologista e obstetra do Hospital Santa Catarina (SP), a pesquisa apenas reforça o que já é sabido entre os obstetras. “São considerados prematuros bebês que nascem com menos de 37 semanas. Mas isso não quer dizer que aquele que chegou até a 37a já possa nascer. Não é bem assim. Eles ainda têm um pequeno cumprimento de maturidade pulmonar a ser vencido – o que acontece entre a 38a ou 39a semana”, diz.

E o especialista reforça, ainda, que, mesmo na 38a semana, as cesáreas eletivas (agendadas sem necessidade) podem trazer surpresas, ao acarretar em complicações para os bebês, como infecções respiratórias, febre, alteração na temperatura. “Parece que uma semana é pouco, mas para o bebê na barriga é muito”, afirma Júlio.

Sobre problemas respiratórios, aliás, cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, já haviam mostrado como o risco de complicação acaba sendo maior para quem nasceu antes da hora. Eles avaliaram mais de 230 mil partos feitos entre 2002 e 2008 em hospitais dos Estados Unidos. Cerca de 7 mil bebês tiveram de ser internados em UTIs, sendo que, destes, mais de 2 mil sofreram de problemas respiratórios. Entre os casos de pneumonia, por exemplo, o problema caiu de 1,5% entre os que nasceram de até 38 semanas para 0,1% na 39ª semana.

No Brasil, a maioria dos nascimentos na rede particular ainda é feita por cesáreas. O maior problema é o crescente número de cesáreas eletivas, ou seja, quando a cirurgia é agendada antes de a grávida entrar em trabalho de parto. Um dos riscos envolvidos é a chance de o médico errar no cálculo gestacional e o bebê nascer prematuro. Com isso, a criança deixa de ganhar peso e de amadurecer os pulmões, e ainda corre o risco de precisar ser internada em uma UTI neonatal por conta da prematuridade. “Muitas cirurgias são feitas sem necessidade, apenas por comodismo, tanto dos pais da criança, que querem se organizar melhor, quanto dos médicos, que não precisam desmarcar consultas para realizar um parto a qualquer momento”, diz Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês (SP). Nos Estados Unidos, dados do March of Dimes mostram que 543 mil bebês (1 a cada 8) nascem prematuramente.

A situação é diferente quando a mãe entra em trabalho de parto e, no meio do caminho, é preciso realizar uma cesárea. A chance de a criança ter problemas pulmonares é menor porque, durante o processo, segundo Pupo, há uma série de transformações que acontecem na criança que a deixam mais preparada para sobreviver fora do útero. “Não se deve interferir num processo natural, a não ser em casos específicos em que há risco de vida para a mãe e o bebê”. A data provável dos partos é em torno de 40 semanas de gestação. E, se mãe e filho estiverem bem, esse prazo pode se estender até 41 semanas e 6 dias.

Por que o número de cesárea só cresce?

Por falta de informação , incentivo do médico ou até mesmo por medo do parto normal, as gestantes tendem a acreditar que a cesárea é o tipo de parto mais seguro. Mas os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que é justamente o contrário. Um estudo, que avaliou mais de 100 mil nascimentos em países asiáticos, mostrou que as grávidas que passaram por uma cesárea têm mais de sofrer complicações sérias, que podem levar à morte. Caso a cesárea seja realizada antes da mulher entrar em trabalho de parto e sem indicação médica, os riscos são 2.7 vezes maiores do que no parto vaginal, segundo as estatísticas. Já no caso dos partos cirúrgicos feitos antes do trabalho de parto, mas com indicação médica, o número cai para 2.1.

Ainda assim, se numa roda de conversa com outras mães, você perguntar quem teve parto normal, vai perceber que as estatísticas sobre o parto cesárea no mundo são mesmo alarmantes. Dados do The NHS INformation Centre, na Inglaterra, por exemplo, mostram que 25% dos partos no Reino Unido, entre 2008 e 2009, foram cirúrgicos. Já nos Estados Unidos, em 2005, esse índice já era de 30,2%. No Brasil, os números são ainda mais assustadores. Somente no SUS, 33,25% dos partos realizados em 2008 foram cirúrgicos, de acordo com o Ministério da Saúde, o que representa cerca de 655 mil cesáreas. Todos esses dados contrariam a recomendação da Organização Mundial de Saúde, que determina que esse tipo de parto represente somente entre 10% e 15% do total realizado em um país.


Os benefícios do parto normal

Para o bebê: esse tipo de nascimento é bom porque segue o processo natural. Ela nasce na hora certa, a não ser nos casos de prematuros. Existem várias evidências e especulações de que o trabalho de parto não é meramente uma atitude física de expulsão do bebê, e sim uma alteração de padrão hormonal em que há liberação de hormônios pela mãe e bebê que sinalizam que o momento de nascer está chegando. Outro beneficio é que o tórax do bebê é comprimido ao passar pelo canal de parto, o que faz com que ele expulse secreções das vias respiratórias, tornando-o mais adaptado a respirar.

Para a mãe: além do aspecto psicológico, da satisfação da mulher em poder dar à luz, a recuperação é mais rápida e são menores as chances de complicações após o procedimento, como sangramentos ou infecções, por exemplo.
 

Quando o parto cesárea é realmente necessário?

-->Quando a placenta cobre parcial ou totalmente o colo do útero, impedindo a saída do bebê, a chamada placenta prévia;

--> Caso a mãe tenha herpes genital com lesão ativa até um mês antes do parto;

--> Em casos raros de doenças cardíacas;

--> Se o bebê está atravessado, mas antes é possível tentar ajudá-lo a ficar na posição correta;

--> Nos casos em que a gestante tenha aids com varga viral muito alta ou desconhecida;

--> Quando há descolamento prematuro de placenta;

--> Se a abertura do colo da mãe é pequena para o bebê, algo que ocorre em menos de 5% dos partos;

--> Nas situações em que o cordão umbilical penetra no canal de parto antes do bebê;

--> Se há diminuição drástica no fluxo de oxigênio ou nos batimentos cardíacos, o que ocorre em apenas 1% dos partos.

Fonte: 300 respostas da Crescer sobre gravidez

O normal é o natural






Maternidade Sofia Feldman: parto pode ser feito dentro da água



Ações isoladas, como a de pessoas com curso superior que abraçam a profissão de parteira, ajudam a mudar aos poucos um triste cenário no Brasil, que é campeão mundial em cirurgias cesarianas.

Na Europa e nos Estados Unidos, as parteiras são referência. Lá, existem casas bem equipadas e movimento consolidado de humanização, que prioriza o nascimento natural. Intervenções, como a cesariana, só em casos comprovados de riscos à gestante ou ao bebê, restritas a 15% ou 20% do total, índice bem próximo dos 15% preconizados como ideais pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, ocorre o inverso: impera a cirurgia em quase 80% dos partos em hospitais privados. Na rede pública o índice também é alto, com média de 30% a 40%.

Quando se fala no assunto, muitos brasileiros ainda associam parteiras ao imaginário de experientes mulheres, que aprendiam o ofício na prática e o transmitiam entre descendentes. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, existem cerca de 300 parteiras tradicionais atuantes em Minas Gerais. A maioria delas encontra-se na região do Vale do Jequitinhonha. Desde 2001 o estado reconhece o trabalho dessas mulheres, oferecendo-lhes cursos de aperfeiçoamento. “Elas foram capacitadas a identificar riscos, a estimular clientes a fazer o pré-natal, ganharam kit de material asséptico e passaram a ser elos das equipes médicas da região”, explica a obstetra Márcia Rovena de Oliveira, da Coordenação da Saú­de da Mulher, Criança e Adoles­cen­te.

Bem próximo dali, em Trancoso (BA), a parteira Maria da Glória Teixeira Conceição, 63, é referência local. Dona Glória, como é conhecida, já fez mais de 200 partos, desde que aos 21 anos abraçou a profissão da mãe, Maria Vieira, e da avó, Maria Teixeira. Com as parentes e mais as amigas Frozina, Maria de Irene, Engelina e Igina, dona Glória formava a equipe de parteiras da região. Hoje é a única em atividade, e é tão requisitada que já fez partos com a presença de tradutor, pois foi escolhida por turistas italianas, norte-americanas, alemãs e uma filipina para acompanhar o pré-natal e fazer o procedimento. Dona Glória tem estatística de causar inveja: nunca uma parturiente morreu sob seus cuidados. “Não havia hospital por perto, nem clínicas. Íamos até as casas a cavalo, de bicicleta, a pé, de carro, já fui até na garupa de moto, debaixo de sol ou chuva”, conta. 

Tal realidade vem ganhando ares contemporâneos. Seria uma espécie de volta às origens: enfermeiras obstetras utilizam todo o conhecimento para atuarem como parteiras profissionais, acompanhando gestantes de baixo risco. Foi o que aconteceu em dezembro passado com a nutricionista Andrea Santa Rosa, mulher do ator Márcio Garcia (o Bahuan de Caminho das Ín­dias). Ela escolheu ter em casa seu terceiro filho, Felipe, com a parteira profissional Heloísa Les­sa. O menino nasceu saudável, com 3,9 quilos. Na época, Andrea declarou que “a mulher que não faz um parto assim não sabe o que é parir.” Já a atriz e modelo Fernanda Lima é garota-propaganda de uma campanha de parto normal, depois que deu à luz dessa forma, em abril de 2008, aos gêmeos Francisco e João. “Sendo pessoas públicas e famosas, am­bas contribuem para quebrar pa­drões e mitos. Antina­tural é a cesaria­na”, diz a enfermeira obstetra Miriam Rego Leão,  parteira profissional que assiste partos domiciliares e em hospitais. Professora de obstetrícia e saúde da mulher da PUC Minas, ela faz parte do Movimento BH pelo Parto Normal, da prefeitura, e da ONG Bem Nascer. “Muitas práticas adotadas nos hospitais desfavoreceram que o par­to fosse um momento prazeroso e saudável para a mulher. Ele passou a ser uma vivência traumática, associada a processos cirúrgicos. Ago­ra partimos para um meio termo, modelo humanístico que utiliza toda a tecnologia disponível, mas que torna a mulher partícipe do processo”, conta Míriam.

Outra que atua ostensivamente para o fim da cultura da cesariana é Márcia Koiffman. Mãe de três filhos, todos nascidos naturalmente, a então advogada abandonou a carreira há 15 anos para se dedicar à enfermagem, com foco nas parturientes. Fez especialização e mestrado em obs­tetrícia. Há quatro anos fundou, em São Paulo, a Primaluz – Parteiras Profissionais, em parceria com a também enfermeira obstetra e doutoran­da Priscila Colacioppo. “Des­de então, são mais de 150 partos feitos, sendo que só eu tenho 600 na carreira, e Priscila, mais de mil.” A dupla conta com o apoio de dois médicos pediatras e uma ginecologista. A paciente pode escolher fazer o parto em casa ou em hospital.
Aliás, existem hospitais que oferecem a possibili­dade de realizar partos dentro d’água. É o caso do Sofia Feldman, em Belo Hori­zonte. A maternidade é pioneira em Minas Gerais ao instituir, em 2001, uma casa de parto na qual é priorizado o parto humanizado, com capacidade para 150 atendimentos por mês. A paciente pode escolher como ter o bebê, a melhor posição, ou se prefere métodos não farmacológicos para alívio da dor.

Mas e quando a futura mamãe escolhe o próprio marido para atuar como parteiro? Ao engravidar da segunda filha, Juliane, hoje com 23 anos, a médica pediatra Marli Cristia­ne da Silva tomou uma atitude ousada. Na época, ela cursava o primeiro semestre de medicina na UFMG. Comprou toda a literatura disponível e resolveu treinar seu marido para fazer as vezes de parteira. A decisão pegou de surpresa o engenheiro eletricista Marcelo Campi Lima, avesso a sangue e a ferimentos. “Aos poucos ela foi me convencendo. Meu maior medo era haver uma complicação de última hora.” Tudo correu de forma tranquila. Bruna, 20, a caçula do casal, também foi planejada para nascer em casa. Um descolamento de placenta, aos oito meses de gestação, levou a mãe ao hospital. “Sempre fui radical em minhas decisões. Hoje, se tivesse que repetir o que fiz, poderia até escolher uma parteira, mas com assistência técnica melhor, com aparelhos, em um centro de saúde com mais recursos. Continuo defensora do parto natural, convenço muitas pacientes a fazer o mesmo. Os movimentos dos músculos do canal vaginal sob o neném ajudam a expulsar os líquidos que ficam retidos no pulmão e vias aéreas do bebê”, diz a médica. A esta altura o leitor pode estar se questionando: e o parto da primogênita de Marli, como ocorreu? Foi com uma parteira, em Uruguaiana (RS).

Diferenças entre as vias de parto:

Parto normal
  • Rápida recuperação
  • Me­nos dor pós-parto
  • Menos complicações
  • Amamentação facilitada
  • Curto tempo de internação
  • Menor risco de o bebê nascer prematuro
  • Não-necessidade de separar mãe-bebê

Cesariana
  • Podem ocorrer complicações da anestesia e cirurgia
  • Pro­blemas de cicatrização (queloides)
  • Formação de gases
  • Hemorragias e infecções
  • Há chance maior de retirada do bebê do útero ainda prematuro
  • Riscos em futuras gestações, como ruptura do útero, placenta mal posicionada ou que não se desprende do útero
  • Abalo emocional de ter o filho separado do convívio nas primeiras ho­ras após o nascimento, o que desfa­vorece a amamentação
  • Risco de morte é 7 vezes maior para a mulher e 2 vezes maior para o bebê se comparado ao parto normal


Fonte
Texto: Vanessa de Cobucci | Fotos: Pedro Vilela

Pesquisa mostra que gestantes precisam de mais informação para optar por parto natural

A informação sobre os procedimentos a que serão submetidas é fundamental para que as mulheres optem pelo parto natural. A conclusão faz parte de um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“As mulheres que escolhem parto humanizado se informam antes”, aponta Rosamaria Giatti Carneiro, autora da tese Cenas de Parto e Políticas do Corpo: uma Etnografia de Experiências Femininas do Parto Humanizado.

Para a antropóloga, é fundamental que as mulheres conheçam os procedimentos médicos e saibam das consequências da opção (cesárea ou normal) para a própria saúde.

A pesquisa qualitativa acompanhou 18 grávidas, portais e grupos de discussão na internet sobre gestação e parto humanizado e aponta como atitude e decisão das mulheres a escolha da forma do parto, como de cócoras, em casa ou mesmo no hospital, mas com baixa dose de anestesia.

Para Rosamaria, a escolha pelo parto natural acaba por “resignificar” o fim da gestação.“Não é só um evento fisiológico ou ato médico. Elas relatam uma experiência rica e linda”. Ainda segundo ela, a escolha desconstrói o imaginário social de que parir dói. “O limite da dor é subjetivo”, destaca, antes de dizer que as mulheres que optam pelo parto natural sentem-se bem e confiantes.

Apesar das vantagens do parto normal, o Brasil é campeão mundial em cesarianas. Em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais (52%). Na rede privada, o índice de partos por cesariana chega a 82% e na rede pública, 37%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de cesarianas fique em torno de 15%.

Na opinião da antropóloga, muitas cesarianas são feitas porque as mães temem que o bebê possa ficar em “sofrimento”. “Se o médico usa essa palavra, as mulheres acabam optando pelo  procedimento cirúrgico.” Ela reforça, no entanto, que a decisão deve ser feita sob consulta médica e que os cuidados durante o pré-natal são fundamentais.

Fonte: aqui!

Quer dizer que você quer parto normal?


 
Foto do livro: Parto com amor

Quando o assunto é parto, você diz “quero parto normal” ou “vou tentar normal” (e não se fala mais nisso)?

Você acredita que, para ter parto normal, basta querer e torcer para que tudo dê certo?

Você escolheu um médico do plano que se diz favorável ao parto normal, mas que diz “não se preocupe com isso, do parto cuido eu”?

Se você respondeu “sim” a qualquer uma dessas perguntas, você precisa ler este post. Se você conhece alguém que se encaixa nesse perfil, por favor, repasse o link para ela.

Eis os FATOS: se você vai ter seu filho na rede privada, a probabilidade de acabar numa cesárea se aproxima de 90%. Pense bem: quantas amigas suas começaram naquele quadro acima (“quero normal, meu médico diz que faz”) e terminaram numa cesárea? Não quero te desapontar (pelo contrário, quero ajudar!), mas a verdade é que parto normal não é para qualquer uma. É para quem pode – para quem pode correr atrás de informações confiáveis, pode encontrar a coragem para mudar de médico se o dela for cesarista, pode pagar um obstetra fora do plano ou optar pela rede pública se necessário, pode olhar para dentro e enfrentar seus demônios, pode peitar o marido, a mãe e o escambau. A boa notícia é que você pode ser uma mulher dessas.

Se você quer MESMO parto normal, seguem abaixo 7 dicas para aumentar as chances de ter o parto que você deseja e merece:

1. Informe-se
Parto normal no Brasil é exceção. Especialmente se você tem plano de saúde. Isso significa que você precisa estar ciente das possíveis armadilhas que fazem as mulheres caírem na cesárea, mesmo sem querer. Que armadilhas? Entre elas: os mitos sobre o parto, as falsas indicações de cesáreas, a realidade sociocultural e econômica (em que o normal é o parto cirúrgico), o sistema tecnocrático e voltado para lucros e a formação e a atitude da equipe que vai te acompanhar. Você não precisa mudar nada disso – se quiser tentar, ótimo! – mas não pode fingir que vive num mundo cor de rosa em que o médico vai deixar a natureza seguir seu curso, a equipe do hospital está lá pra te ajudar e o que quer que aconteça estava “escrito nas estrelas”. Acorde e deixe seus olhinhos bem abertos. Ou volte a acreditar em duendes (quer dizer, médicos bonzinhos) e depois não se surpreenda se acordar com uma bela de uma cicatriz na barriga.

2. Escolha um obstetra realmente favorável
A melhor forma de saber se o seu GO “faz” parto normal mesmo (quem faz é a mulher, mas já que essa é a expressão, estou adotando-a aqui, entre aspas) é através da indicação de mulheres que pariram com ele. Se isso não for possível, dê uma de detetive e procure pistas de que ele possa te induzir à cesárea. Fique atenta aos seguintes sinais: ele nunca desmarcou uma consulta (parto normal não tem hora marcada); no consultório, tem várias pacientes chegando para tirar pontos e meia dúzia de grávidas com a barriga do tamanho da sua (ou seja, não vai dar para esperar o trabalho de parto de todas elas); ele não gosta de falar sobre o parto e diz coisas como “deixa isso comigo”; ele é fã das táticas do medo (“o importante é a saúde do bebê”) e vive procurando pêlo em ovo (“temos que ficar de olho nesse líquido…”). Mesmo que ele seja muito querido, muito fofo e te conheça há anos, não se iluda: se ele faz cesárea em 90% dos casos, a sua chance de parir com ele é 1/10.

3. Procure apoio virtual e local
Quem nada contra a maré requer muito apoio e incentivo. Nada melhor que se juntar a pessoas que te entendem, já passaram por isso, e se empenham para ajudá-la a conseguir atingir o seu objetivo. Para isso, sugiro que você participe de listas virtuais como a PartoNosso do Yahoo Grupos, comunidades como a GPM – Gestação, Parto e Maternagem no Facebook e que procure também um grupo de apoio local, onde possa olhar nos olhos de outras mães, ouvir suas experiências e trocar recomendações. Aqui no Rio tem o Ishtar, grupo incrível, coordenado por gente maravilhosa e frequentado por mulheres de todos os tipos (inclusive euzinha).  Também tem Ishtar em Belém, Sorocaba e Recife, e sei que São Paulo tem o Gama, BH tem o Bem Nascer e Curitiba tem o Espaço Aobä. E não devem ser os únicos. Procure por esses grupos, vá a um encontro (são gratuitos) e saiba que você não está sozinha.

4. Prepare sua cabeça (e o corpo também)
É preciso muito preparo psicológico para se manter firme num desejo que, lastimavelmente, é tão difícil de se realizar na atual conjuntura. É preciso coragem para dizer tchau para seu médico de anos na 37a semana e procurar um novo profissional; força (e paciência) para não ceder aos protestos da família e dos amigos que não entendem porque você não marca a cesárea como todo mundo; convicção para usar suas economias para bancar uma equipe realmente alinhada com seu plano de parir; fé para se permitir parir como manda a natureza. Minhas dicas: leia livros e relatos de parto positivos (fuja de programas de TV, de maneira geral) e faça terapia. Além da força psicológica e emocional, também é legal preparar o corpo para as posições e as sensações do parto (yoga para gestantes e massagem perineal são duas opções que vêm à mente). Mas não se iluda: a cabeça é muito mais importante que o corpo nesse processo de parir.

5. Seja sujeito
É muito cômodo (e perigoso) entrar no papel da “mãezinha” ou “gravidinha” (primas-irmãs da “princesinha”) e deixar que todas as decisões sejam tomadas por você: pelo médico, por sua mãe, pelo marido… Se você tem a intenção de parir, você precisa se recusar a ocupar esse lugar. Porque uma mulher que dá a luz é protagonista, e não um objeto ou um coadjuvante do processo. Ser sujeito significa, entre outras coisas, questionar, se examinar, refletir, sentir, escolher, rebolar (em ambos os sentidos), viajar para a partolândia e dar um belo de um FODA-SE pra todas aquelas pessoas que teimam em te julgar. Ser sujeito significa viver de acordo com a sua verdade e sentir na pele as suas escolhas, e não ser vítima das decisões de terceiros.

6. Contrate uma doula
Para quem não sabe o que é uma doula e qual a importância dela no parto, prometo um post longo e detalhado em breve. Por enquanto, vou ser econômica e dizer que a doula acompanha a gestante antes, durante e após o parto; sua função é servir de apoio e conforto. A doula não é profissional de saúde e nem faz parte da equipe médica: ela acompanha a mulher, oferecendo palavras de incentivo, um toque carinhoso e um porto seguro para a parturiente (e, muitas vezes, também para seu companheiro). Em suma, a doula é uma amiga que já viu muitas mulheres parindo. Por isso, é importante  conversar muito com ela antes do parto, sentir-se bem com ela e criar um laço de afeto e confiança. Você pode achar que doula é modismo ou frescura, mas a história e as evidências mostram o contrário: doulas existem há milênios e sua presença na sala de parto diminui o índice de cesárea, analgesia e depressão pós-parto e aumenta a satisfação materna e o índice de amamentação (entre outros benefícios). Se você é carioca, visite a página do Núcleo Carioca de Doulas no Facebook para se conectar com profissionais da área.

7. Não saia correndo para o hospital
Pensei se deveria mesmo incluir esta última dica – obviamente, não quero ser culpada depois por uma leitora que teve seu filho no táxi! -, mas como não tem como negar que um dos fatores de cesárea é a impaciência dos médicos (a famosa desculpa “não teve dilatação”) optei por colocá-la. A não ser que esteja com uma equipe de parto humanizado, a melhor maneira de se proteger da cesárea intraparto é chegar ao hospital em trabalho de parto ativo, com mais de 7 cm de dilatação e, de preferência, dilatação total. Eu sei que é difícil se imaginar fazendo isso – “correndo esse risco” – mas é mais comum chegar cedo demais e sofrer um parto cheio de intervenções desagradáveis ou até mesmo uma cesárea do que acabar parindo a caminho da maternidade (apesar desses casos saírem mais na mídia!). Se você não tem plena confiança na equipe médica e sente que o médico pode acabar fazendo uma cesárea de última hora, essa é a dica que eu deixo para você (de preferência, siga também a dica número 6).

Fonte: aqui!