sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A chegada de Valentim!! Um relato muito especial

Minha gestação e meu parto, uma experiência transcendental de amor!!! Bom, como prometi para minha querida doula e amiga Mariana Castelo Branco, chegou o momento de relatar o meu parto e partida do nosso amado filho Valentim.No dia 01 de Março de 2014, após 1 dia de atraso de minha menstruação resolvi fazer um teste de gravidez de farmácia e lá estavam os dois risquinhos. Um susto imenso, pois não achávamos que engravidaríamos tão fácil... mas, a gravidez foi bem vinda, pois já estávamos juntos há 4 anos. Para nossa família foi imensa alegria!Então chegou o momento de buscar um obstetra pensando já no parto que eu gostaria de ter, reflexão esta que eu já vinha tendo muito antes de engravidar.Eu tenho plano de saúde e passei por algumas consultas com ginecos e obstetras para tentar discutir possibilidades de partos naturais, muito antes de engravidarmos e me deparei com propostas de partos normais acompanhadas de pagamentos de taxas, que quase pagam um parto domiciliar, só para o obstetra aguardar meu trabalho de parto... é, triste realidade.


Como sempre fui muito ideológica e lutei contra a mercantilização de serviços e processo, seria incompatível aceitar uma cesariana sem que houvesse real indicação. EU QUERIA UM PARTO NATURAL, com tudo o que eu tinha direito!!!Por sorte, ao me consultar com uma nutri, antes mesmo de engravidar, ela me indicou uma obstetra, do SUS, na UNESP de Botucatu. Ao saber do resultado, eu realmente estava grávida, contatei a obstetra, a Claudinha e comecei minha jornada rumo a maternidade!A Claudinha me passou muitas coordenadas e uma delas a importância de uma doula, e assim, cheguei até a Mariana. Conversamos, nos conhecemos e nos gostamos!Os exames começaram e tudo estava normal. Eu não tinha enjoos e nem mal estar...que ótimo, pois muitas mães relatavam coisas horríveis de começo de gestação. Pelos ultrassons víamos que corria tudo bem com o bebê, apesar dele ainda ser bem pequenininho.


Aos 3 meses ao sabermos o sexo do bebe, soubemos também que ele tinha uma pequena onfalocele. Quase aos 4 meses fizemos novo ultrassom, com o bebe já maiorzinho e soubemos que além da onfalocele ele tinha uma má formação incompatível com a vida...Nossa obstetra nos acolheu e pontuou que por se tratar de uma má formação que não possibilitaria a vida de nosso filho após o nascimento, tínhamos direito, caso fosse nosso desejo, de solicitarmos interrupção da gestação judicialmente.
Naquele momento meu mundo e de meu marido desabaram.No caminho para a casa, muitas coisas passavam pela minha mente, inclusive as aulas sobre políticas públicas para pessoas com deficiência, na qual eu apresentava uma peça de teatro sobre uma mãe que descobria que o filho era deficiente, logo após o nascimento... é, de fato, aquilo que eu apresentava nas aulas para outras turmas na faculdade, naquele momento aconteciam comigo. Todos os meus sonhos de mãe começaram a desabar.


Foi ai que tudo virou de ponta cabeça. Meu marido e eu refletimos sobre interromper ou não a gestação, e decidimos juntos que NÃO interromperíamos.Foi um choque, piramos, choramos, brigamos com Deus, quase nos divorciamos, mas o universo nos aproximou de pessoas que poderiam verdadeiramente nos ajudar em nossa decisão já tomada e toda a jornada que havia pela frente: iríamos com nosso bebê até onde ele conseguisse.Surgiu em nossa vida novas pessoas, antigos amigos reapareceram, outros estreitaram vínculos conosco e assim seguimos uma maratona de terapias, psicoterapias, constelação familiar, homeopatias, florais, reikes, conselhos com amigos de notória evolução espiritual, comidinhas especiais trazidas pelas amigas, entre outros mimos.Nossa tristeza maior passou e então conseguimos nos conectar verdadeiramente ao nosso Valentim, que apesar do diagnóstico, quando ainda em gestação estava vivo e bem vivo... rsrsrs. Ele pulava, chutava, cutucava, virava e quando eu achava que algo de “inesperado” poderia estar acontecendo com ele, nos conectávamos e ele logo mexia, como se dissesse... “mamãe, ainda estou aqui”.


Tudo o que eu comia logo pensava... “uhhhhh filho, a mamãe adora essa comida, experimenta...”. Meu esposo desenhava o Valentim em minha barriga de caneta e assim seguíamos, uma hora mais feliz e outras menos.Mariana, nossa doula, soube da situação... nosso filho, ao nascer, morreria... e mesmo assim continuou conosco. Mariana foi um presente para nós, principalmente por aceitar partilhar conosco momento tão delicado. Conversamos bastante, combinamos o que e como faríamos, contei de meus desejos e fizemos um plano de parto, abordando inclusive o que aconteceria com Valentim ao nascer. Todo esse processo foi difícil e lindo ao mesmo tempo, como dizia nossa homeopata, chegava a ser poético. Tivemos inúmeras experiências transcendentais no período, que serão em breve todas relatadas em um livro que escreverei contando detalhadamente toda essa jornada com Valentim.


Com 38 semanas, no dia 24 de outubro de 2014, em casa, após um dia como tantos outros, quando dirigindo fui a algumas lojas, a floricultura... por volta das 19 horas a minha bolsa rompeu. E que incrível... o líquido jorrava pernas à baixo e Valentim ainda se mexia. Imediatamente liguei para a Mariana e disse que eu queria ter contrações... “cadê as tais contrações que falam”... Mariana riu e disse, “calma, você as terá”. Me orientou a banhos quentes, chazinho e cobertores para aumentar a temperatura do meu corpo e então efetivamente entrar em trabalho de parto. Combinamos que eu só iria ao hospital (20 km de distância de onde moro) quando estivesse quase nascendo.


Lá fui eu, feliz e triste ao mesmo tempo, pois realizaria meu sonho de parir naturalmente, já que tudo estava bem comigo, mas perderia meu filho amado. Olhei pra isso e decidi ficar apenas com a felicidade daquele momento.
Meu marido fez um chá, ouvi um mantra debaixo do chuveiro, fiz exercício de agachamento para favorecer o encaixe do bebe, fiz concentração me alinhando às forças da terra e do universo e pedi a força da maternidade de minhas antepassadas.Às 22 horas comecei a sentir as primeiras e pequenas contrações, meu marido e eu rimos, porque eu dizia.... “será que é só isso”.... kakakak. As contrações seguiram até as 00hs. Nesse período eu comi frutas, tive diarreia, queria organizar a casa (meu marido não permitiu) kakaka.Pensávamos...quanta beleza há no organismo que regula as contrações certinhas... que incrível!!! Estávamos animados, não tínhamos medo, pois antes do parto já havíamos construído em nossa imaginação tudo para a nossa “boa hora”, a hora do parto, detalhadamente...e tudo foi perfeito, como havíamos imaginado, do jeitinho que eu desejava.À meia-noite as contrações cessaram e eu dormi até as 3 horas da manhã, quando acordei verdadeiramente com contrações, sequenciadinhas e mais longas. Fui novamente ao chuveiro e lá fiquei... liguei para Mariana que nos aconselhou a ficarmos ainda em casa e no chuveiro e assim fizemos. As 4:00 horas da manhã pedi ao meu marido que ligasse para a Mariana, pois a dores haviam piorado e eu já não suportava... aí então seguimos imediatamente para a UNESP.Durante o caminho eu não conseguia proferir uma só palavra, pois as contrações exigiam de mim muita respiração. Ao chegar ao hospital as contrações eram menos espaçadas e mais longas....sentia que eu já não estava totalmente em mim, não respondia a perguntas que me faziam na recepção... eu estava em outra órbita... a tal partolândia se aproximava J.

As 5:15 horas fui levada ao quarto, onde Mariana e minha obstetra Claudia que também estava lá, prepararam tudo com bola de yoga, cadeira de parto, biombo na porta e máquina fotográfica à posto... kakaka (eu queria fotos, como qualquer mãe, né!).

Já em outro planeta eu andava de um lado para o outro sentindo as contrações. Ainda que todos me aconselhassem a me sentar na bola e fazer exercícios de agachamento eu insistia em ficar de um lado para outro, sentindo as contrações... essa liberdade de fazer o que meu corpo pedia era incrível... eu não queria me deitar, não queria me sentar, eu queria andar... eu e minhas contrações. Meu corpo sabia que isso era necessário naquele momento.


Quando senti que não mais aguentaria tantas contrações senti algo que começava a apontar entre minhas pernas, aí sentei-me na cadeira de parto (com meu marido atrás me segurando) e a médica ao me examinar, em tom firme, chamou a enfermeira, pois eu já estava coroando... a cabecinha de Valentim já estava apontada... então num suspiro e com minha ultima grande contração, Valentim chegou às 6:30 horas da manhã do dia 25.


Valentim chegou já sem vida, como já sabíamos que aconteceria, mas chegou em paz, com toda a beleza de um grande parto natural, veio aos nossos braços para nos conhecermos e nos reconhecermos. Ficou conosco tempo suficiente para estreitarmos nossos laços de amor. Éramos só gratidão e sentimento de dever cumprido. Após um tempo entregamos nosso filho para Mariana e Claudia, que com todo amor, o levaram para iniciar a coleta de materiais para exames. Duas horas após o parto estávamos de alta médica, fisicamente inteira e emocionalmente equilibrada e conectada ao universo. Antes de sair do hospital ainda tomei um café da manhã reforçado!


Assim ficamos por todo o dia, mesmo durante o enterro dele, que foi no mesmo dia, equilibrados e gratos por termos tido a oportunidade de conhecê-lo.
Outras coisas lindas e intrigantes aconteceram, mas estas farão parte do material que escreveremos em breve.


Aproveito esse relato, para agradecer a todos que estiveram ao nosso lado durante essa gestação, nos dando curas, terapias, alegrias, confortos, conselhos e amor,a nós e ao nosso Valentim. Já pedimos ao universo que acolha cada uma destas pessoas que nos ajudaram, dando-lhes o mesmo amor e gratidão que sentimos pela experiência vivida.

Tudo o que vivemos nos transformou e o parto natural foi a experiência mais transcendental que nos aconteceu até agora na vida. Parir vale muitooooooooo a pena, é realmente uma relação de amor e um sentimento de existência!NOSSO MUITO OBRIGADO!  

Miriam MalacizeFantazia e Fagner Sanches Javara