terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O parto da placenta: 10 passos para estragar completamente o terceiro estágio do parto


  1. Assim que o bebê nascer, esqueça tudo o que você sabe sobre regulação hormonal do parto (o parto não acaba enquanto não nasce a placenta) e necessidades das mulheres em trabalho de parto: acenda a luz, gargalhe de felicidade pelo parto, deixe que outras pessoas entrem no quarto, fale excitadamente e sem parar com a mulher, discuta como foi legal o parto com a mulher e todos à volta, nos mínimos detalhes, incluindo horários, aspectos técnicos etc.
  2. Coloque o bebê sobre a mãe (você já aprendeu isso, né?), mas o enrole bastante com panos e coloque logo a touca, de modo que o contato pele a pele (estímulo para a liberação de ocitocina) não passe de um contato pano-a-pele e que aquele cheiro inebriante da cabecinha do bebê pelo qual muitas mulheres ficam completamente vidradas (estímulo para a liberação de ocitocina) fique bem encoberto pela touquinha fofa. Isso tudo pra evitar que eles congelem numa sala que não deveria estar fria, mas está.
  3. Fique checando sem parar se o cordão ainda pulsa (o que em tese pode fazer com que ele pare antes, se realmente houver uma resposta de vasoconstrição à manipulação excessiva do cordão, como eu acredito que há) e, assim que achar que parou de pulsar, clampeie imediatamente e tire o bebê da mãe para que ele e/ou ela possam ser examinados mais facilmente.
  4. Assim que o cordão estiver clampeado, passe o bebê para que alguém possa examiná-lo, limpa-lo e vesti-lo (para acabar de vez com o contato pele a pele e às vezes inclusive retirando o bebê do campo visual da mãe). Se ele começar a chorar por isso e a mãe começar a ficar angustiada ou preocupada, não se importe, diga alguma coisa reconfortante pra ela e ignore que a adrenalina (medo – preocupação – tensão) tem ação contrária à da ocitocina (necessária para a dequitação e um terceiro estágio seguro).
  5. Aproveite que o bebê já saiu do colo da mãe e o cordão já está clampeado e comece a cutucar, digo, examinar o períneo. Talvez, inclusive, você já possa passar uma gaze e jogar um soro ou solução (incômodo e dolorido para muitas) para verificar a extensão e profundidade de uma possível laceração ou até mesmo dar uns pontinhos (incômodo e dolorido para a absoluta maioria) para agilizar! (ciclo medo – tensão – dor manda lembranças, afinal ele só é realmente relevante durante o trabalho de parto, como você já decorou dos livros)
  6. Se nesse intervalo (estimo uns 15 ou 20 minutos desde o nascimento, se você foi bem ágil nos passos anteriores) a placenta ainda não saiu, comece a franzir a testa e olhar para a mulher e para o cordão pendurado para fora da vagina dela com uma cara tensa e preocupada. Balbucie alguma coisa e troque olhares com seu assistente. Balance a cabeça com cara de quem está considerando atacar, digo, intervir. Fique sempre em cima, não deixe a mulher em paz nenhum minuto, a qualquer mínima queixa dela, pergunte com o olho arregalado: É CONTRAÇÃO? ESTÁ VINDO UMA CONTRAÇÃO?
  7. Se estiverem vindo contrações ou se não estiverem vindo contrações, comece a checar sem parar o útero. Aproveite pra massagear vigorosamente, tracionar o cordão, sem nunca esquecer de reforçar que tudo ali é um perigo e que é preciso estar atento e forte, já que uma hemorragia (fale essa palavra) pode acontecer a qualquer minuto. Comece a trazer materiais para perto dela. Tilintar de ferros seria excelente nessa fase.
  8. Se o bebê estiver já vestido e penteado, além de bem enrolado em mantinhas coloridas, traga-o para perto da mãe, já que você aprendeu que é importante colocar o bebê ao seio se houver uma preocupação com a retenção da placenta (diga essas palavras também, com a testa franzida). Como você está cutucando a mãe sem parar, talvez ela não queira ficar com o bebê no colo, mas você, muito diligente, diz pra ela que ela PRECISA botar ele ao seio.
  9. Nesse ponto, você recrute alguém (doula ou assistente ou pediatra) para colocar o bebê ao seio materno efetivamente. Mesmo que ela não deseje ou mesmo que ele não deseje e chore e recuse. Diga que é fundamental que ele mame AGORA para ajudar a PLACENTA RETIDA a sair e evitar uma HEMORRAGIA. Tudo isso de forma incisiva, para a mulher ficar bem nervosa a cada vez que ela não conseguir e/ou o bebê chorar no peito.
  10. Se tudo isso tiver funcionado, o terceiro estágio já estará todo bagunçado e você já terá comprometido a famosa “hora de ouro” (a primeira hora pós-parto em que o bebê e a mãe devem passar pelo imprinting, pelo reconhecimento, além de aproveitarem o nível máximo de ocitocina circulante que têm em seu organismo para que todas as adaptações necessárias aconteçam de forma tranquila e segura). Nesse momento, provavelmente já terá se passado a primeira hora e você terá, oficialmente, uma retenção placentária em curso. Talvez até uma leve atonia uterina e um sangramento aumentado. Pronto! É chegada a hora de você intervir de forma eficaz e imediata para corrigir esses processos patológicos que você mesmo causou. Parabéns!

Fonte: Aqui

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