sábado, 20 de setembro de 2014

Relato de Parto da Cris - Nascimento da Arielly


"Eu não poderia começar esse relato sem falar sobre o nascimento da minha primeira filha Camilly, em 2006. Com 42 semanas de gestação, após 12 hs de trabalho de parto, normal de cócoras, porém cheio de intervenções, procedimentos desnecessários comigo no trabalho de parto e com ela assim que nasceu. Eu me sentia realizada ao me tornar mãe, ao pegar no colo um ser tão indefeso, uma bebezinha linda e perfeita, a minha filha! E eu era tão nova, aquilo tudo era novo demais para mim... Porém algo me dizia que poderia ter sido diferente, só não sabia como.
A relação com o pai dela nunca deu certo e logo nos separamos.
Tempo depois o destino colocou em minha vida o Gabriel, um homem com todas as qualidades que eu esperava encontrar em alguém, nos apaixonamos, casamos, e após 4 anos resolvemos ficar grávidos!

Assim que engravidei comecei a pesquisar sobre parto natural, vi muitos e muitos vídeos, li inúmeros relatos, assisti o filme : O Renascimento do Parto e pronto! Decidi que dessa vez seria diferente! Peguei uma cópia de um plano de parto na Internet, mas não fazia ideia de como iria usa-lo. Até que uma amiga me falou de uma doula que ela conhecia.
Encontrei a Mariana, conversamos muito, muito mesmo, amei a forma como ela me encorajava a ficar firme e então eu decidi que iria brigar com o sistema para ter um parto respeitado da forma como eu queria de acordo com as condições e pelo SUS, sem obstetra escolhido, pegaria o plantão e boa!
Montamos um plano de parto com todas as minhas vontades. Tudo certo! Era o empoderamento para que minha segunda filha tivesse um nascimento mais respeitado.

Minha gestação foi longa e para desespero de muita gente ultrapassou as 40 semanas, assim como a primeira. Tive muitos e muitos pródromos, alarmes falsos de deixar a Mari louca, rsss.
No dia 23/05/2014 com 41 semanas e 1 dia, acordei com um pequeno sangramento. A tarde fui ao médico que estava acompanhando minha gravidez, ele examinou, e estava tudo bem, o sangue era o meu colo começando a dilatar. O parto se aproximava. Fui para casa ansiosa, mas tranquila pois eu sabia que ainda poderia demorar mais alguns dias.

O Gabriel (meu marido) trabalha no período noturno e nas últimas semanas antes de sair, ele sempre dizia: "me liga se sentir qualquer coisa", e nesse dia ele não disse nada! Fui me deitar e fiz o que fazia quase todos os dias antes de dormir, peguei o celular e filmei minha barriga mexendo, fazendo ondas, adorava ficar olhando e sentindo os movimentos da minha pequena em meu ventre. Mas nesse dia ela estava muito agitada, mais do que o normal.

Fiquei então curtindo a barriga, fazendo carinho e não conseguia dormir, então as 23:50 hs comecei a sentir cólicas, fiquei deitada, e esperei. Não passavam, resolvi marcar o tempo. Estavam bem regulares. Liguei para o Gabriel e pedi para que ele viesse para casa. As dores foram ficando mais intensas. Avisei a Mari e combinamos de nos encontrar no hospital, assim que as dores aumentassem mais, enquanto isso eu iria avisando ela como as coisas estavam.

Fiquei umas 2 horas no chuveiro, me arrumei, acordei minha filha, , e me despedi longamente dela, emocionada, e ela sonolenta sem saber direito se era verdade que a irmâzinha tão esperada iria nascer, e então o Gabriel a levou para a casa dos meus pais.
As contrações estavam vindo a cada 5 minutos. Comi chocolate, e fiquei deitada no colo do Gabriel, recebendo carinho. Quando as dores ficaram mais fortes, eu já não conseguia mais ficar parada, andava de um lado para o outro.
As 5:30 hs achamos que era melhor ir para o hospital, pois tínhamos que pegar estrada até lá, por ficar em Botucatu e nós moramos em São Manuel.
Encontramos com a Mari na recepção, e eu ja estava tendo que parar a cada contração e abaixar para buscar algum alívio.
As 07:30 o exame de toque revelou que meu colo tinha dilatado quase 5 cm, fizemos a internação e eu imaginei que meu parto seria rápido.


No quarto muita conversa, risos, chocolate, chuveiro, exercícios na bola, anda, senta, levanta, massagem, mimos e carinhos da doula e do marido. E as 14 hs após uma nova avaliação, a dilatação ainda era a mesma. Meu trabalho de parto estava travado, porém fiquei firme e forte. Eu sabia que podia aguentar!
No chuveiro eu viajava para outra dimensão, ter a Mari ao meu lado me encorajando era fundamental para esquecer do mundo e mergulhar nas sensações.


Ver a forma carinhosa com que o Gabriel me olhava, me trazia calma, tê-lo ao meu lado o tempo todo me deixava tranquila para me entregar de corpo e alma à cada contração. Seus abraços me davam força para aguentar a dor. Sim, dói! Dói muito, mas não é uma dor que se possa explicar, dar exemplos, definir. É uma dor louca, muito forte e intensa, mas que desaparece por completo entre uma contração e outra. Uma dor que traz a vida, a cada contração eu estava mais perto de pegar minha filha nos braços.


Essa menininha foi teimosa pra nascer, não queria encaixar de jeito nenhum, estava quentinha e feliz, porque iria querer sair? Já fazia muitas horas que eu estava em trabalho de parto e ela ainda estava alta, nada de encaixar. Fomos até a sala de pré parto para que eu tentasse outros exercícios e posições para ajudar a dilatar mais.




No ápice da dor, creio que fui para a partolândia, me lembro de poucas coisas desse momento, chorava igual criança, rezava e pedia para que ela nascesse logo, abraçava o Gabriel, abraçava a Mari, apertava as mãos deles, não sabia mais que mão era de quem. Trocava de posição a cada contração. E enfim a bolsa se rompeu.
E logo veio uma imensa vontade de fazer força, sentei no banquinho, a Mari na minha frente, o Gabriel me abraçando por trás dizendo que nossa filha estava chegando, um momento de total entrega, em que a mulher não manda em seu corpo.

Muita emoção, a mesma emoção que senti ao ver a Camilly nascendo eu sentia naquele momento vendo a Arielly nascer.
Acredito que para a mãe, ver o filho pela primeira vez é mágico, seja qual for a forma que ele nasceu. Mas parir, sim PARIR! Essa é a palavra! É algo divino, é entrega, é realização, é sentir-se mais mulher! Não é dizer que sou "mais mãe", mas sim, que sou mais MULHER! Já me sentia assim depois que a Camilly nasceu, e agora me sentia ainda mais forte ao passar pelo que passei até estar com a Arielly nos braços.


Arielly nasceu as 19:13 hs, do dia 24/05/2014 após 41 semanas e 2 dias de gestação com 3.640 kg, linda, enorme e perfeita! Após 19 horas de um trabalho de parto em que minhas vontades foram respeitadas, não fui privada de comer nem beber, tive liberdade de movimentos, e a Arielly teve seu nascimento respeitado e sem procedimentos desnecessários.
Veio para o meu colo e abocanhou meu seio e mamou tranquila e calma, como se já tivesse feito isso antes. A Mari disse que ela "nasceu criada." E nasceu mesmo, enfrentou o sistema comigo!"


Agradecimentos:
A Deus pelas bênçãos.
A minha família e amigos pelas vibrações positivas. A Camilly que rezou pela mamãe e pela "Tata".
A equipe da Unesp por respeitar o nosso momento.
E em especial à Mariana Castello Branco, por todo apoio, dedicação, paciência, carinho, incentivo e amor.
E ao amor da vida Gabriel Silva, por segurar minhas mãos, pela paciência e carinho, e principalmente por permanecer ao meu lado o tempo todo me encorajando e mostrando que o nosso amor é lindo!!!

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