"Mamãe", "mãe", "mãezinha",
"gravidinha": Por que não tratar gestantes dessa maneira?
Apelidos aparentemente carinhosos apontam para dois
problemas, quando analisamos o seu uso por profissionais de saúde: a
desqualificação da mulher enquanto protagonista, "reduzindo-a" a um
ser infantilizado, alienado e incapaz de tomar as rédeas de sua gravidez e do
parto e a sua despersonalização e "coisificação" dentro da
instituição, o que também pode ser considerado, por trás de uma fachada de
gentileza e carinho, como violência institucional.
Gestantes e parturientes devem ser tratadas por seus nomes,
e fazer questão disso. Eu, particularmente, sempre odiei ser tratada por
"mãezinha" nas poucas vezes em que levei os meus bebês em médicos que
eu não conhecia pessoalmente. Não sou mãezinha! Sou uma mulher forte,
empoderada, que tem dois filhos e cuida deles, além de ter uma carreira, como
médica, parteira, professora e pesquisadora.
Da próxima vez em que receberem esses apelidos, experimentem
tratar os profissionais de saúde por "doutorzinho" ou
"mediquinho" ou "enfermeirinha". Qual deles irá atender sem
se sentir ofendido? E vamos, todos, profissionais de saúde e usuárias, nos
policiar para evitar a verbose, que é a "doença da palavra". Não é
somente uma questão semântica, é que a forma de tratamento reflete exatamente o
modelo tecnocrático, medicalocêntrico, no qual estamos inserindo.
"Coisificar" e "despersonalizar" o paciente reforça uma
relação hierárquica e contribui para centrar a tomada de decisão exclusivamente
nas mãos dos médicos (mas isso vale para outros profissionais de saúde).
Por uma relação simétrica e pelo respeito à individualidade
de cada um, não poderemos continuar "pacientes" com esse tipo de
tratamento.
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