Quem não foi perdeu!! Isso é FATO!!!
O evento estava lindo, cheio de gente que luta e acredita nos mesmo propósitos e ainda por cima muito bem organizado, clima agradável, comidinhas gostosas, enfim...eu não consigo muito bem definir todas as emoções que vivi lá...acho que somente quem foi entende bem o que estou falando!
E entre todas as emoções e regalias que recebemos e pudemos viver por lá, estava entre elas a exibição em primeira mão do filme: "O Renascimento do Parto", foi indescritível...
Eu tenho ABSOLUTA certeza que esse filme vem para contribuir e ser um marco na história da assistência obstétrica no Brasil.
Carta de Sorocaba
NuPar – Núcleo de Parteria Urbana da ReHuNa
“Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças”.
(Fernando Pessoa)
Nós, ativistas da humanização do nascimento, reunidos na cidade de
Sorocaba nos dias 27 a 29 de julho de 2012, no I ENAPARTU - Encontro
Nacional de Parteria Urbana, vimos por meio desta manifestação tecer
considerações e propostas sobre o atual estado da assistência ao parto
no Brasil.
Desta forma consideramos:
1. A necessidade
da proteção do parto normal como evento biológico, fisiológico e
culturalmente construído, diante da ameaça a que está submetido pelo
alto índice de nascimentos cirúrgicos nas cidades brasileiras. O Brasil
já atingiu a vexatória marca de 52% de cesarianas no ano de 2011, e a
Agencia Nacional de Saude Suplementar (ANS) aponta que 84,5% dos
nascimentos da classe média ocorrem pela via cirúrgica, o que por si só
pode ser considerado uma violência contra a integridade física das
mulheres.
2. A importância de oferecer uma assistência humanizada
em face dos altos índices de violência institucional às mulheres como
recentemente comprovada por pesquisa da Fundação Perseu Abramo
demonstrando que 25% das mulheres relatam algum tipo de violência
durante sua permanecia no hospital. Essa violência é caracterizada como
violência de gênero que atenta contra dignidade humana em um momento de
vulnerabilidade e alto significado cultural.
3. Os recentes
episódios envolvendo o constrangimento para o trabalho e autonomia de
obstetrizes e doulas na assistência à gestante limitam a visão
transdisciplinar da assistência ao parto, o que configura um desrespeito
à liberdade de escolha da mulher enquanto cidadã.
4. O
estabelecimento artificial do momento do parto por interesses outros que
não da fisiologia do processo desencadeiam malefícios para o binômio
mãebebê com consequências a curto médio e longo prazos.
5. A
deficiência dos órgãos formadores de profissionais, em nível de
graduação e pós-graduação, que atendem o nascimento e recém-nascido
podem afastar estes profissionais de uma vivencia respeitosa com a
fisiologia do processo.
6. A adoção acrítica do modelo tecnocrático
que despreza as visões integrativas da parturição despersonaliza e
objetualiza as gestantes, limita a abrangência cultural, psicológica,
afetiva, emocional e espiritual do nascimento.
7. A visão
contemporânea do nascimento é marcada pelo signo do medo necessitando
que essa visão seja transformada em uma visão positiva, com base na
confiança.
8. A negativa de cumprimento, pelos hospitais públicos e
privados, da lei do acompanhante de 2005, assim como o bloqueio da
presença de doulas, agridem o trabalho desses profissionais assim como a
liberdade de escolha das parturientes.
9. A deficiência de
registros e a inexistência de divulgação de práticas hospitalares que
nos possibilitem uma avaliação de projetos que visem à humanização.
10. A falta de preparo técnico e profissional para uma ação conjunta
que ofereça suporte ao atendimento do parto no ambiente extra-hospitalar
11. A desvalorização dos profissionais envolvidos no parto tanto quanto
a sua baixa remuneração, no setor púbico e no setor privado, levam à
qualidade inadequada da assistência ao parto e nascimento.
Diante dessa situação, propomos:
1. Ressaltar o protagonismo da mulher como preceito fundamental na assistência ao parto.
2. Resgatar o nascimento como um evento integral respeitando as culturas onde ele esta inserido.
3. Reforçar a visão transdisciplinar na atenção ao parto estimulando um
esforço colaborativo, com ênfase na horizontalidade, respeitando as
especificidades e estabelecendo como foco primordial a atenção integral à
mulher, bebê e família.
4. Estimular que os órgãos formadores, de
graduação e pós-graduação, incluam nos currículos aspectos da
humanização e nascimento, baseados nas evidências cientificas atuais.
Recomendamos a criação de sistemas nacionais de avaliação curriculares
sobre esse tema, assim como estímulo à criação de grupos de pesquisa
sobre práticas baseadas em evidencias na atenção à gestação e ao parto e
nos cuidados com recém-nascido.
5. Conscientizar as mulheres e sociedade sobre o risco associado ao excesso de intervenções no ciclo grávido-puerperal.
6. Incentivar a criação, manutenção e proteção dos cursos de formação
de obstetrizes e na pós-graduação em enfermagem obstétrica, para
preencher a lacuna de assistência existente nas grandes cidades.
Estimular a adoção de políticas de inclusão de obstetrizes, enfermeiras
obstétricas e doulas no sistema público e suplementar, através de
legislação e política de inclusão na atenção direta ao parto, devendo
essa assistência ser coberta e remunerada inclusive pelo sistema
suplementar.
7. Ressaltar a importância do parceiro(a) no processo
de nascimento, pois esta presença se correlaciona positivamente com o
fortalecimento dos laços familiares, o que contribui para a diminuição
da violência doméstica.
8. Investir na formação e capacitação dos
profissionais habilitados e reconhecidos pela OMS: o obstetra, médico de
família, enfermeira obstetra e a obstetriz.
9. Estimular programas e publicações governamentais de educação continuada, voltados à humanização do nascimento.
10. Estimular a criação de novos espaços de atenção ao parto
extra-hospitalar assim como a proteção dos já existentes, dentro de um
programa nacional de humanização do nascimento pelo Ministério da Saúde.
Regulamentar e fiscalizar a atuação de parteiros urbanos, dentro de
parâmetros de segurança, garantindo a ampla escolha do local de parto
pelas mulheres e suas famílias.
11. Estimular uma visão colaborativa
e fraterna entre todos os espaços de atenção ao parto, visando uma
abordagem integrativa do ato do nascimento e oferecendo uma ampla gama
de alternativas para as mulheres.
12. Incluir o ciclo gravídico
puerperal nos currículos escolares dentro da disciplina de “Educação
Sexual”, reforçando os aspectos sociais, culturais e psicológicos, além
dos aspectos biológicos e reprodutivos.
13. Estimular a capacitação,
formação e educação continuada de doulas para complementar a
assistência integral à gestante, oferecendo apoio nos aspectos
emocionais e físicos para ela e sua família.
14. Fazer valer a RDC
36/2008, que regulamenta qualquer estabelecimento de atenção obstétrica,
assim como realizar a sua fiscalização efetiva.
Sorocaba, 29 de julho de 2012.
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