Vi esse texto no facebook da Renata Olah e achei SENSACIONAL!!!
Fala sobre o que é a tão falada partolândia e como chegar lá!
A Partolândia
Existe um lugar secreto
pra onde podemos ir. É um lugar pouco divulgado, antes mais pessoas
visitavam, hoje apenas uma minoria tem a oportunidade de ir até lá. Mas
todas as pessoas que já foram costumam descrever-lo como um lugar
mágico.
Eu mesma nunca tinha ouvido falar. Depois que comecei a
freqüentar grupos de mulheres que relatavam seus partos passei a ouvir a
tal frase misteriosa: “então entrei na partolândia” e eu me perguntava:
“que raio é esse de partolândia? Como se faz pra ir até lá? Pra quê ir
até lá? O que tem lá?”.
Pra variar, fui estudar o assunto e
descobri um mundo à parte. A verdade é que a partolândia tem vários
endereços. Ela está dentro de cada fêmea deste mundo. Não é feita de
conceito, não tem forma definida, não é construída através de cultura ou
criação. Ela simplesmente está lá. E não requer exercícios específicos,
treinamentos pra saber entrar nela. Nem se trata de um privilégio pra
poucas. Sendo uma mulher prestes a parir, já é suficiente pra se ter o
ingresso nas mãos.
O problema é que hoje em dia há trombadinhas
especialistas em roubar tal ingresso das mãos de mulheres em trabalho
de parto. Nem sempre esses trombadinhas são pessoas necessariamente.
Algumas mulheres chegam a entrar na partolândia e são arrancadas de lá.
Outras nem chegam a conhecer esse maravilhoso lugar e nem ficam sabendo
de sua existência. Na verdade, alguns trombadinhas são bem
intencionados, mas por não saberem da existência da partolândia e suas
maravilhas, num ato que acreditam ser benéfico acabam tirando essa
oportunidade da parturiente.
Hoje em dia o maior medo de uma
gestante é o de sentir muita dor no trabalho de parto. É um pavor que
vem sendo cultivado pela nossa sociedade através de uma catequização
constante de que o parto é sofrido e doloroso. Vemos mulheres sofrendo
horrores no parto em novelas, filmes e até programas de TV que prometem
mostrar um parto real. Quantas vezes assisti a partos Frank (frankstein)
no Discovery Home & Health com mulheres urrando de dor em posição
frango assado suplicando pela anestesia com médicos e enfermeiras ao seu
redor fazendo toque a todo momento pra saber a quantas anda a dilatação
e falando o tempo todo com essa mulher: “vamos, faça força! Respira!
Vamos! De novo! No 3 hein! 1-2-3, forçaaa!”. A coitada lá, suando,
fazendo respiração cachorrinho quando de repente vem um anestesista e
acaba com o sofrimento. Ela continua fazendo força, mas agora não se
sabe por que o bebê não sai. Gritam com ela: “você não está fazendo
força o suficiente! Vamos, força!”. O bebê então entra em sofrimento
fetal visto através dos batimentos cardíacos no cardiotoco ligado desde o
momento em que a mãe chegou na maternidade. O médico apela pro fórceps
de alívio. Algumas vezes dá certo, outras não e a cesariana finalmente
salva a vida do bebê. Em novelas da Globo é comum ver mulheres com um
pano na boca pra morder de tanta dor, gritando e uma parteira molhando
uma compressa (que até hoje não sei pra que serve) numa bacia de água.
Essas verdadeiras visões do inferno contribuem pra que se propague cada
vez mais uma visão negativa e aterrorizante de um evento natural,
fisiológico e cheio de significado na vida de um ser-humano.
O
medo da dor é reforçado através de relatos tenebrosos de parto normal
que sempre culminam em tragédias. Depois de muito sofrimento materno, a
maioria deles termina em crianças com retardo mental por falta de
oxigenação, morte por enforcamento pelo cordão umbilical, morte por
decapitação pelo fórceps e outras atrocidades. Geralmente as explicações
são associadas ao corpo da mãe que não se comportou como deveria ou por
ser defeituoso (falta de abertura, falta de dilatação, força
insuficiente) ou como se fosse traiçoeiro (o bebê passou do tempo e
começou a sofrer dentro da mãe, por exemplo). Mas tudo isso eu já falei
em posts anteriores. O problema é que essa dor horrenda e esses
episódios de sofrimento materno e fetal têm em 99% dos casos alguns
fatores em comum que são ignorados pela maioria: ocorrem em
maternidades, são explicados e registrados em prontuários por médicos e a
mulher encontra-se em uma situação sempre semelhante: rodeada de
pessoas (em sua maioria desconhecidas), num ambiente frio com luz forte,
posição frango assado, restringida, etc. E a grande maioria não conhece
a partolândia.
Seria o caso de perguntar: o que o
hospital/maternidade tem a ver com o sofrimento, com a dor com o fato
dessas mulheres não conhecerem a partolândia? O que a falta da
partolândia tem a ver com o sofrimento? Afinal de contas...o que é essa
partolândia?!? Então vamos nos aprofundar mais nisso.
O ser
humano tem o cérebro mais avançado do reino animal. Isso se deve à
formação do neocórtex, uma camada fina encontrada em volta do cérebro. O
neocortex é responsável pelos pensamentos, pelo raciocínio. Abaixo do
cérebro temos uma glândula famosa chamada hipotálamo. Ele é responsável
pelo comportamento instintivo de todos os animais, inclusive nós
humanos. Controla o sistema involuntário que mantém a temperatura,
produz a fome quando precisamos nos alimentar secretando hormônios que
atuam nas glândulas supra-renais. As supra-renais liberam outros
hormônios que atuam diretamente no nosso comportamento em diferentes
situações. Portanto, é o Hipotálamos que desencadeia processos
primordiais para a continuação da espécie.
Para preservar a
espécie, somos levados a dormir, acordar, caçar (na antiguidade), comer,
beber, fazer necessidades, fazer sexo, gestar, parir, cuidar das crias,
defender-se, fugir do perigo, etc. Cada comportamento é regido por uma
cascata de hormônios e neurotransmissores (substâncias cerebrais) que em
algumas circunstâncias podem ter sua secreção prejudicada pela ativação
inadequada do neocortex.
O neocortex é ativado através de estímulos
externos que levam o individuo à situação de alerta, como a necessidade
de raciocinar. Perguntas, luz forte, ser observado, etc. Quando o
neocortex é ativado, o hipotálamo pode sofrer um rebaixamento de sua
atividade. Outras vezes, a ativação do neocortex leva a uma
interpretação da situação que exige que o hipotálamo secrete uma
substância contrária à que estava sendo secretada anteriormente. Por
exemplo: uma substância secretada no estado de relaxamento que pode
levar ao êxtase ou ao sono pode ser interrompida por um barulho que é
interpretado como perigo levando o individuo a secretar adrenalina. O
mesmo ocorre quando se é tocado repentinamente ou quando algo nos
estressa. Pode ser o apito de uma máquina que verifica os batimentos
cardíacos, a cara de preocupação do médico, uma enfermeira irritante, o
marido nervoso, a sogra apavorada.
Então imaginemos uma pessoa
adormecendo. Ela repousa num ambiente tranqüilo, com pouca ou nenhuma
luz, silencioso ou com um som de fundo quase que hipnótico, ela vai se
desligando dos problemas, dos pensamentos, entrando num estado de
consciência completamente diferente como se mergulhasse em si mesma e
finalmente dorme. A partir daí passa por vários estágios do sono a
começar por alpha, que serão repetidos algumas vezes durante esse
período de descanso. Com certeza se ocorrer um barulho, se acenderem uma
luz forte na cara dessa pessoa, se tocarem nela principalmente de forma
abrupta, se começar a fazer muito frio, se começarem a fazer perguntas
ou se ela se sentir observada, seu estado muda automaticamente para a
vigília e o sono é interrompido. E assim é um trabalho de parto (TP).
O TP deve ser comparado às necessidades básicas (principalmente dormir e
fazer sexo) porque é igualmente regido pelo hipotálamo. Quando nos
deixamos levar pelo TP em si sem nenhuma interrupção externa, sem
nenhuma intervenção, somos automaticamente levadas á partolândia.
Portanto, a partolândia nada mais é do que um estado de consciência que
permite à mulher se comportar de maneira instintiva. A introspecção é o
primeiro sintoma e isso pode começar dias antes quando a mulher começa a
não querer participar de eventos coletivos e prefere ficar em um
ambiente que julga seguro (na maioria das vezes sua própria casa)
esperando a hora chegar. Quando o TP se inicia, a introspecção começa a
ficar mais evidente mostrando a necessidade de fazer uma viagem para
dentro de si.
Em muitos relatos de parto natural (sem
intervenções) observo que as mulheres começam contando detalhadamente
cada acontecimento e conforme o relato é desenvolvido, os detalhes vão
se perdendo. Isso se deve à mudança de estado de consciência dessas
mulheres que acabam por se desligar do mundo externo e entrar na
partolândia onde apenas sensações são registradas e os pensamentos são
quase inexistentes. Muitas vezes não se lembram quem estava presente, o
que falaram. Apenas as sensações são descritas e eu nunca li ou ouvi
nada parecido com sofrimento. Assim como quando dormimos ou temos um
sexo satisfatório que nos leva a um orgasmo.
Há tempos já se
sabe as principais substâncias secretadas durante a estadia na
partolândia. No entanto, sabia-se apenas suas funções fisiológicas e que
suas quantidades se modificam em cada estágio do TP. A ocitocina é
responsável pela contração e a dilatação uterina. É a primeira a ser
secretada no TP. As endorfinas atuam como analgésicos naturais relaxando
a musculatura esquelética e diminuindo as sensações dolorosas. A
adrenalina torna a atividade de expulsão do feto, no final do TP, mais
eficaz. Hoje já se sabe que a atuação dessas substâncias vai além do
físico alterando o comportamento, o que pode facilitar o entendimento
das necessidades da parturiente e inclusive saber quanto seu útero está
dilatado apenas observando como ela se comporta evitando, assim, toques
desnecessários que podem tirar a mãe da partolândia.
Nota-se
que nos partos naturais, logo após o nascimento, a mulher tende a
posicionar-se de joelhos ou a sentar-se. Esta liberação de adrenalina é
favorável aos mamíferos em geral, pois coloca a fêmea em situação de
alerta. O bebê recebe parte desses hormônios do parto e, ao nascimento,
está com as pupilas dilatadas. Ambos, o bebê e a mãe, possuem então
condições fisiológicas para o contato olho no olho, fundamental na
espécie humana.
A ocitocina é chamada de hormônio do amor por
estar presente durante o orgasmo. Assim como no parto, a mulher não
consegue chegar às vias de fato se não se entregar e se desligar do
mundo externo. E só há entrega se ela estiver se sentindo à vontade e
segura, num ambiente que propicia a concentração. Durante o orgasmo,
assim como no TP, a ocitocina promove a contração uterina e é por todas
essas semelhanças que dizemos que o parto faz parte da vida sexual dessa
mulher. Portanto, o ambiente adequado pra ela parir é semelhante ao que
ela considera ideal para fazer sexo. Um ambiente inadequado pode gerar
inibição, medo, irritação e outras sensações desagradáveis que a fazem
liberar adrenalina. Nesta fase do TP, a adrenalina compete receptores
sensoriais com a ocitocina, o que quer dizer que a adrenalina inibe o
efeito da ocitocina retardando o TP e aumentando a dor. A partir do
momento em que o bebê nasce, a taxa de ocitocina na mulher chega ao seu
ápice e é passada para o bebê através do cordão umbilical. Desse modo,
ao se olharem, mãe e filho criam um vínculo forte que acelera o
estabelecimento de uma interdependência que mais tarde culmina no amor
entre os dois.
A ação das endorfinas é potente. Até a mulher
atingir 8cm de dilatação a dor vai aumentando, porém continua
suportável. A função da dor é estimular a secreção das endorfinas que
trarão uma sensação prazerosa e concomitantemente a diminuição da dor.
Principalmente se a secreção e propagação de endorfinas forem aceleradas
através do relaxamento muscular e da dilatação dos vasos sanguíneos.
Pra isso, existem métodos como massagem e água quente na região
lombar.Se um estímulo externo tirar a parturiente da partolândia
causando susto, constrangimento ou medo, ela liberará adrenalina que tem
ação vaso-constritora dificultando a chegada das endorfinas, o que
aumenta consideravelmente a dor. A partir da dilatação total (10cm), a
maioria dos relatos revela que a dor diminui, isso comprova que a
secreção de endorfinas já está a todo vapor. São opiáceos da família da
morfina que não só tiram a dor mas ajudam a mulher a entrar nesse estado
de consciência alterado e prazeroso. Hoje é sabido que o bebê também já
secreta suas endorfinas e experimenta sensação semelhante durante o
parto.
Com dilatação total, a ação da adrenalina se torna
importante para a fase expulsiva do TP. Sua secreção nesse momento
permite a ejeção. No sexo é responsável pela ejaculação, na amamentação é
responsável pela ejeção do leite e no parto é responsável pela expulsão
do bebê. A mulher se torna atenta, algumas vezes agressiva na medida
exata para finalizar o TP e para cuidar de seu bebê assim que ele nasce.
É comum ainda um estado de euforia devido às endorfinas combinado com a
sensação de extrema energia e alerta importantes nesse momento. A dor
simplesmente não existe mais. Os relatos são unânimes.
Durante a
gestação, a mulher secreta prolactina que é responsável pela fabricação
do leite. Este leite (chamado de colostro num primeiro momento) é
armazenado nos alvéolos das mamas. Ao redor desses alvéolos existem
células musculares que ao se contraírem, fazem com que os alvéolos
secretem o leite. No momento do parto, o alto nível de ocitocina promove
essa contração culminando na ejeção do leite por conta da adrenalina.
Esse é o motivo pelo qual o leite desce mais rápido num parto natural.
Infelizmente, muitos médicos ignoram a partolândia criando protocolos
infundados nas maternidades cheios de intervenções invasivas e
desnecessárias. O fato da mulher ter de responder a uma série de
perguntas faz com que ela ative o neocortex por ter de raciocinar o lado
primitivo do cérebro e, portanto, dificultando o ingresso á
partolândia. A sala fria desconcentra. Muitas pessoas observando inibe.
Toques vaginais freqüentes também. A luz forte ativa o estado de alerta e
o ambiente estranho gera insegurança. O fato da mulher ficar
restringida numa maca desconfortável sem poder mudar de posição é uma
das coisas que mais dificulta (se não impedir) o ingresso á partolândia.
Além de desconfortável e inibitória, a posição de frango assado
(proibida durante toda a gestação) faz com que o peso do útero e do bebê
comprimam a artéria que leva oxigenação para o bebê, além de impedir a
ação da gravidade (utilizada no parto de cócoras), o que dificulta a
saída do bebê. Esta posição é a campeã de TPs demorados regados a dor
materna e sofrimento fetal por falta de oxigenação adequada, culminando
em intervenções que se não fosse tal posição seriam desnecessárias.
Isto não quer dizer que uma mulher que não ingressa na partolândia não
ame seu filho ou não consiga amamentá-lo. Mas sem dúvida entrar em TP e
realizar um parto natural propicia uma experiência única para mãe e
filho. Geralmente, ao entrar na partolândia, a mulher vivencia um
mergulho em si mesma que modifica seu modo de ver o mundo e a si mesma. É
uma experiência que permite o auto-conhecimento num nível que de outra
forma seria impossível. Ela experimenta de forma intensa do que seu
corpo é capaz e do que ela é capaz, mudando sua auto-estima. Relatos
constantemente descrevem que após o parto sentem-se capazes de
absolutamente tudo. Muitas inseguranças vão embora. É comum mulheres que
foram à partolândia mudarem seu comportamento com relação ao que a
sociedade preconiza. Segura de si, a mulher da partolândia dificilmente
sucumbe aos padrões estéticos, profissionais e morais ditados e acredita
mais nas suas vontades. Desse modo, desenvolve menos depressão
pós-parto, menos problemas com amamentação e vivencia um amadurecimento
mais precoce.
Tal amadurecimento é vivenciado a partir do
momento em que o vinculo mãe-filho fortificado pela ação da ocitocina é,
posteriormente, sedimentado pela prolactina. A prolactina também tem um
efeito comportamental. Ao passar pela partolândia e ter altos níveis de
ocitocina, esta felizarda mãe também experimenta altos níveis de
prolactina (níveis esses impossíveis de serem alcançados por quem não
foi à partolândia). A prolactina tende a provocar estados mentais de
subordinação e submissão às leis da natureza. Isto vem sendo amplamente
estudado e comprovado na Suécia. Esta subordinação aumenta a
adaptabilidade às necessidades do bebê. Este vem sendo apontado como um
dos motivos para que mães visitantes da partolândia terem maior sucesso
na amamentação.
A amamentação não é inata e nem fácil. Mas os
altos níveis de prolactina permitem uma melhor adaptação e uma maior
força de vontade para driblar os problemas e conseguir amamentar o bebê.
Além disso, é comum que mães da partolândia (como as índias e de
mulheres de outros países também) amamentem durante anos. Isto porque a
modernização do parto juntamente com a necessidade de trabalhar fora
faça com que a prolactina seja liberada em menor quantidade e por um
período curto de tempo, provocando um desmame precoce.
São
comuns as queixas de uma amamentação sofrida, cheia de frustrações e
sensações ruins que levam algumas mães e verem esse período com
sofrimento e sucumbirem a explicações sem fundamento do tipo: “tenho
pouco leite” ou “meu leite não sustenta” para justificarem um
comportamento repulsivo á amamentação que nem elas sabem explicar, mas
que gera culpa. Já as mães que passaram pela partolândia costumam
relatar experiências felizes com a amamentação e chegam a lastimar
quando o filho dá o grito de independência não pedindo mais o peito. É
nesse momento que nota-se uma tendência maior de se doar nas mães da
partolândia.
Fonte original: Mariana Passaglia - Enfermeira
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