Minha
gestação e meu parto, uma experiência transcendental de amor!!!Bom, como prometi para minha querida doula e
amiga Mariana Castelo Branco, chegou o momento de relatar o meu parto e partida
do nosso amado filho Valentim.No dia 01 de Março de 2014, após 1 dia de
atraso de minha menstruação resolvi fazer um teste de gravidez de farmácia e lá
estavam os dois risquinhos. Um susto imenso, pois não achávamos que
engravidaríamos tão fácil... mas, a gravidez foi bem vinda, pois já estávamos
juntos há 4 anos. Para nossa família foi imensa alegria!Então chegou o momento de buscar um obstetra
pensando já no parto que eu gostaria de ter, reflexão esta que eu já vinha
tendo muito antes de engravidar.Eu tenho plano de saúde e passei por algumas
consultas com ginecos e obstetras para tentar discutir possibilidades de partos
naturais, muito antes de engravidarmos e me deparei com propostas de partos
normais acompanhadas de pagamentos de taxas, que quase pagam um parto
domiciliar, só para o obstetra aguardar meu trabalho de parto... é, triste
realidade.
Como sempre fui muito ideológica e lutei
contra a mercantilização de serviços e processo, seria incompatível aceitar uma
cesariana sem que houvesse real indicação. EU QUERIA UM PARTO NATURAL, com tudo
o que eu tinha direito!!!Por sorte, ao me consultar com uma nutri,
antes mesmo de engravidar, ela me indicou uma obstetra, do SUS, na UNESP de
Botucatu. Ao saber do resultado, eu realmente estava grávida, contatei a
obstetra, a Claudinha e comecei minha jornada rumo a maternidade!A Claudinha me passou muitas coordenadas e
uma delas a importância de uma doula, e assim, cheguei até a Mariana. Conversamos,
nos conhecemos e nos gostamos!Os exames começaram e tudo estava normal. Eu
não tinha enjoos e nem mal estar...que ótimo, pois muitas mães relatavam coisas
horríveis de começo de gestação. Pelos ultrassons víamos que corria tudo bem
com o bebê, apesar dele ainda ser bem pequenininho.
Aos 3 meses ao sabermos o sexo do bebe,
soubemos também que ele tinha uma pequena onfalocele. Quase aos 4 meses fizemos
novo ultrassom, com o bebe já maiorzinho e soubemos que além da onfalocele ele
tinha uma má formação incompatível com a vida...Nossa obstetra nos acolheu e pontuou que por
se tratar de uma má formação que não possibilitaria a vida de nosso filho após
o nascimento, tínhamos direito, caso fosse nosso desejo, de solicitarmos
interrupção da gestação judicialmente. Naquele momento meu mundo e de meu marido
desabaram.No caminho para a casa, muitas coisas
passavam pela minha mente, inclusive as aulas sobre políticas públicas para
pessoas com deficiência, na qual eu apresentava uma peça de teatro sobre uma mãe
que descobria que o filho era deficiente, logo após o nascimento... é, de fato,
aquilo que eu apresentava nas aulas para outras turmas na faculdade, naquele
momento aconteciam comigo. Todos os meus sonhos de mãe começaram a desabar.
Foi ai que tudo virou de ponta cabeça. Meu
marido e eu refletimos sobre interromper ou não a gestação, e decidimos juntos que
NÃO interromperíamos.Foi um choque, piramos, choramos, brigamos
com Deus, quase nos divorciamos, mas o universo nos aproximou de pessoas que
poderiam verdadeiramente nos ajudar em nossa decisão já tomada e toda a jornada
que havia pela frente: iríamos com nosso bebê até onde ele conseguisse.Surgiu em nossa vida novas pessoas, antigos
amigos reapareceram, outros estreitaram vínculos conosco e assim seguimos uma
maratona de terapias, psicoterapias, constelação familiar, homeopatias,
florais, reikes, conselhos com amigos de notória evolução espiritual,
comidinhas especiais trazidas pelas amigas, entre outros mimos.Nossa tristeza maior passou e então
conseguimos nos conectar verdadeiramente ao nosso Valentim, que apesar do
diagnóstico, quando ainda em gestação estava vivo e bem vivo... rsrsrs. Ele
pulava, chutava, cutucava, virava e quando eu achava que algo de “inesperado”
poderia estar acontecendo com ele, nos conectávamos e ele logo mexia, como se
dissesse... “mamãe, ainda estou aqui”.
Tudo o que eu comia logo pensava... “uhhhhh
filho, a mamãe adora essa comida, experimenta...”. Meu esposo desenhava o
Valentim em minha barriga de caneta e assim seguíamos, uma hora mais feliz e
outras menos.Mariana, nossa doula, soube da situação...
nosso filho, ao nascer, morreria... e mesmo assim continuou conosco. Mariana
foi um presente para nós, principalmente por aceitar partilhar conosco momento
tão delicado. Conversamos bastante, combinamos o que e como faríamos, contei de
meus desejos e fizemos um plano de parto, abordando inclusive o que aconteceria
com Valentim ao nascer. Todo
esse processo foi difícil e lindo ao mesmo tempo, como dizia nossa homeopata,
chegava a ser poético. Tivemos inúmeras experiências transcendentais no
período, que serão em breve todas relatadas em um livro que escreverei contando
detalhadamente toda essa jornada com Valentim.
Com 38 semanas, no dia 24 de outubro de 2014,
em casa, após um dia como tantos outros, quando dirigindo fui a algumas lojas,
a floricultura... por volta das 19 horas a minha bolsa rompeu. E que
incrível... o líquido jorrava pernas à baixo e Valentim ainda se mexia.
Imediatamente liguei para a Mariana e disse que eu queria ter contrações...
“cadê as tais contrações que falam”... Mariana riu e disse, “calma, você as terá”.
Me orientou a banhos quentes, chazinho e cobertores para aumentar a temperatura
do meu corpo e então efetivamente entrar em trabalho de parto. Combinamos que
eu só iria ao hospital (20 km de distância de onde moro) quando estivesse quase
nascendo.
Lá fui eu, feliz e triste ao mesmo tempo,
pois realizaria meu sonho de parir naturalmente, já que tudo estava bem comigo,
mas perderia meu filho amado. Olhei pra isso e decidi ficar apenas com a
felicidade daquele momento. Meu marido fez um chá, ouvi um mantra debaixo
do chuveiro, fiz exercício de agachamento para favorecer o encaixe do bebe, fiz
concentração me alinhando às forças da terra e do universo e pedi a força da
maternidade de minhas antepassadas.Às 22 horas comecei a sentir as primeiras e
pequenas contrações, meu marido e eu rimos, porque eu dizia.... “será que é só
isso”.... kakakak. As contrações seguiram até as 00hs. Nesse período eu comi
frutas, tive diarreia, queria organizar a casa (meu marido não permitiu) kakaka.Pensávamos...quanta beleza há no organismo
que regula as contrações certinhas... que incrível!!! Estávamos animados, não
tínhamos medo, pois antes do parto já havíamos construído em nossa imaginação
tudo para a nossa “boa hora”, a hora do parto, detalhadamente...e tudo foi
perfeito, como havíamos imaginado, do jeitinho que eu desejava.À meia-noite as contrações cessaram e eu
dormi até as 3 horas da manhã, quando acordei verdadeiramente com contrações,
sequenciadinhas e mais longas. Fui novamente ao chuveiro e lá fiquei... liguei
para Mariana que nos aconselhou a ficarmos ainda em casa e no chuveiro e assim
fizemos. As 4:00 horas da manhã pedi ao meu marido que ligasse para a Mariana,
pois a dores haviam piorado e eu já não suportava... aí então seguimos
imediatamente para a UNESP.Durante o caminho eu não conseguia proferir
uma só palavra, pois as contrações exigiam de mim muita respiração. Ao chegar
ao hospital as contrações eram menos espaçadas e mais longas....sentia que eu
já não estava totalmente em mim, não respondia a perguntas que me faziam na
recepção... eu estava em outra órbita... a tal partolândia se aproximava J.
As 5:15 horas fui levada ao quarto, onde
Mariana e minha obstetra Claudia que também estava lá, prepararam tudo com bola
de yoga, cadeira de parto, biombo na porta e máquina fotográfica à posto...
kakaka (eu queria fotos, como qualquer mãe, né!).
Já em outro planeta eu andava de um lado para
o outro sentindo as contrações. Ainda que todos me aconselhassem a me sentar na
bola e fazer exercícios de agachamento eu insistia em ficar de um lado para
outro, sentindo as contrações... essa liberdade de fazer o que meu corpo pedia
era incrível... eu não queria me deitar, não queria me sentar, eu queria andar...
eu e minhas contrações. Meu corpo sabia que isso era necessário naquele
momento.
Quando senti que não mais aguentaria tantas
contrações senti algo que começava a apontar entre minhas pernas, aí sentei-me
na cadeira de parto (com meu marido atrás me segurando) e a médica ao me
examinar, em tom firme, chamou a enfermeira, pois eu já estava coroando... a
cabecinha de Valentim já estava apontada... então num suspiro e com minha
ultima grande contração, Valentim chegou às 6:30 horas da manhã do dia 25.
Valentim chegou já sem vida, como já sabíamos
que aconteceria, mas chegou em paz, com toda a beleza de um grande parto
natural, veio aos nossos braços para nos conhecermos e nos reconhecermos. Ficou
conosco tempo suficiente para estreitarmos nossos laços de amor. Éramos só
gratidão e sentimento de dever cumprido. Após um tempo entregamos nosso filho para
Mariana e Claudia, que com todo amor, o levaram para iniciar a coleta de
materiais para exames. Duas horas após o parto estávamos de alta médica,
fisicamente inteira e emocionalmente equilibrada e conectada ao universo. Antes
de sair do hospital ainda tomei um café da manhã reforçado!
Assim ficamos por todo o dia, mesmo durante o
enterro dele, que foi no mesmo dia, equilibrados e gratos por termos tido a
oportunidade de conhecê-lo. Outras coisas lindas e intrigantes
aconteceram, mas estas farão parte do material que escreveremos em breve.
Aproveito esse relato, para agradecer a todos
que estiveram ao nosso lado durante essa gestação, nos dando curas, terapias,
alegrias, confortos, conselhos e amor,a nós e ao nosso Valentim. Já pedimos ao
universo que acolha cada uma destas pessoas que nos ajudaram, dando-lhes o mesmo
amor e gratidão que sentimos pela experiência vivida.
Tudo o que vivemos nos transformou e o parto
natural foi a experiência mais transcendental que nos aconteceu até agora na
vida. Parir vale muitooooooooo a pena, é realmente uma relação de amor e um
sentimento de existência!NOSSO MUITO OBRIGADO!